LONDRINA-
Em meio ao crescente envolvimento dos jovens com a violência,
alguns projetos são exemplos de iniciativas da comunidade
que contribuiem para manter as crianças e jovens longe
da criminalidade. Um deles é trabalho desenvolvido
Centro de Produtores Independentes de Arte e Cultura (Cepiac),
que mesmo no período de férias recebe diariamente
adolescentes do Conjunto João Paz (Zona Norte) e bairros
vizinos. Os jovens buscam diversão de qualidade, como
leitura dos livros da mini-biblioteca da entidade.
Criado em 1999, o Cepiac estabeleceu-se formalmente no final
de 2001. O trabalho começou com uma oficina de reaproveitamento
de tecido no Jardim União da Vitória (Zona Sul),
que era ministrada por uma aluna do curso de Estilismo em
Moda da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O material
também foi oferecido, como fonte alternativa de renda,
para os moradores do Conjunto José Belinati (Zona Norte)
e do João Paz.
Funcionou, por um tempo, no Centro Comunitário do
João Paz. Como o prédio é usado para
outros tipos de atividade, desde casamentos até velórios,
ficava difícil para a entidade desenvolver os trabalhos
ali. A coordenadora Darlene Barbosa Kopinski passou a perceber,
paralelamente, a necessidade de ocupar o tempo das crianças
que iam com as mães com algum tipo de atividade cultural.
As atividades lúdicas, até como ginástica,
eram feitas na praça, quando não chovia. No
início, a filha e um sobrinho de Darlene davam oficinas
como taekwondo. Cerca de 32 mulheres participavam do grupo.
Grande parte delas levava as crianças junto.
Em 2003, o projeto passou a ocupar o prédio de um
posto de saúde desativado, no Centro Comercial do Conjunto
João Paz. Antes, o local era um mocó. Era ponto
de usuários de drogas e estava com os vidros das janelas
e lâmpadas quebrados. Um convênio com a Secretaria
Municipal da Cultura e a Companhia de Habitação
de Londrina (Cohab-Ld) viabilizou o espaço. O Cepiac
não paga aluguel e as contas de água e luz são
bancadas pela administração municipal.
O cadastro contabiliza 540 crianças e adolescentes.
''Entre 35 e 40 crianças não passam nem três
dias sem aparecer aqui'', contabiliza. Quando não há
atividades, as crianças frequentam o local para fazer
leitura, na mini-biblioteca do projeto. Os professores ministram
voluntariamente aulas de inglês, artes cênicas,
dança e confecção de roupas com reaproveitamento
de tecido. O projeto está aberto para novos voluntários.
Além do trabalho dos professores voluntários,
convênios garantem a realização de oficinas
periodicamente. O problema é que o acordo mais recente
terminou em março do ano passado. A esperança
de dar um estímulo maior nas oficinas culturais está
no projeto Pontos de Cultura, do Ministério da Cultura.
O programa seleciona projetos de geração e complementação
de renda para comunidades carentes. A proposta aprovada é
de trabalho de complementação de renda, através
de multiplicadores culturais, no Conjunto Novo Amparo (Zona
Leste). Os professores de fora vão trabalhar com as
potencialidades identificadas na própria comunidade.
Para Darlene, iniciativas semelhantes ao Cepiac contribuem
para reduzir os números da criminalidade em Londrina.
''A falta de atenção que os adultos têm
com as crianças é um dos principais causadores
da violência. Cinco segundos de atenção
que se dê a uma criança, já faz a diferença'',
acredita. A coordenadora, no entanto, não deixa de
destacar que o poder público tem de cumprir sua parte.
''O governo não tem de transferir toda a responsabilidade
para a população. Mas a comunidade deve envolver-se
com este tipo de trabalho. Uma pessoa que chama as crianças
que estão na rua para ouvir a leitura de uma história,
já está fazendo algo'', salienta. ''Sempre gostei
de lidar com crianças. Minha formação
moral me pede que eu me envolva, de uma forma ou de outra,
para melhorar a situação de onde vivo'', acrescenta.
E Darlene tem experiência no assunto. É moradora
do Jardim João Paz há 23 anos. Mas foi a falta
de apoio do poder público que fez ruir uma das iniciativas
bem sucedidas realizadas pelo Cepiac foi no Conjunto Nossa
Senhora da Paz, um dos bairros mais violentos de Londrina.
De novembro de 2003 a junho de 2004, a organização
manteve uma oficina de manipulação, higiene
e reaproveitamento de alimentos, no Jardim Nossa Senhora da
Paz (Zona Oeste). O trabalho não teve continuidade
por falta de dinheiro para o combustível e o material.
Fernando Rocha Faro
da Folha de Londrina
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