Maximilien
Calligaris
No palácio de Chaillot, na França, foi inaugurada,
no último 17 de setembro, a "cidade da arquitetura
e do patrimônio" pelo presidente Nicolas Sarkozy.
Sarkozy expressou claramente sua decisão de "dar
começo a um novo projeto de cidade global para a Grande
Paris". Num encontro de duas horas com 14 dos arquitetos
mundialmente mais conhecidos, ele debateu sobre o uso da arquitetura
urbana para dar uma nova forma à paisagem dos subúrbios
parisienses, num prazo de 20, 30 e 40 anos. O presidente acredita
que "a maior tarefa atual da arquitetura é de
humanizar os subúrbios que foram abandonados durante
muito tempo". Também declarou que "o escândalo
da periferia das cidades" e a sua feiúra "não
deveriam ser uma fatalidade". Ele disse que reunirá
"uma comissão, composta de dez escritórios
de arquitetura, metade franceses, metade estrangeiros, para
trabalhar na perspectiva de um diagnóstico da Grande
Paris".
Novos meios de transporte também fazem parte do projeto.
O desenvolvimento da nova linha de tramway
(veículo elétrico sobre trilhos), inaugurada
em dezembro do ano passado, teve sucesso superior às
expectativas. Nos primeiros três meses, já tinha
sido usada por mais de cinco milhões de usuários;
hoje, 80 mil pessoas se servem dela diariamente. Para 2012,
o tramway deveria conectar
todos os subúrbios entre eles, circulando ao redor
do centro de Paris.
A Grande Paris é uma grande aposta. A idéia
surgiu em 1989, com um projeto urbano chamado "Banlieu
89" (subúrbios 89), concebido por Roland Castro
na intenção de combater o "apartheid urbano",
que faz do centro histórico de Paris uma área
sitiada por uma imensa coroa de subúrbios.
De fato, no centro da cidade, dividido em 20 bairros (arrondissements),
vivem apenas 2,2 milhões de habitantes, enquanto a
aglomeração, no seu conjunto, contém
12 milhões de pessoas.
Nascimento dos guetos
Os subúrbios de Paris nasceram nos anos 60, no meio
dos "trintas anos gloriosos" (1945-1974), quando
o constante crescimento econômico da França produzia
uma necessidade desesperada de mão-de-obra.
Eles foram construídos com pouco esforço arquitetônico
e urbanístico e com fundos limitados, para abrigar
uma vasta imigração operária, originária
principalmente da África do Norte. Com taxas de desemprego
superior a 20% (o dobro da média nacional) e dificuldades
de integração de seus habitantes na sociedade
francesa (tanto por causa do status econômico quanto
por discriminação étnica), os subúrbios
se tornaram rapidamente guetos que favorecem altos índices
de criminalidade.
São conhecidas as revoltas que aconteceram em 2005
nos subúrbios das grandes cidades francesas, quando
adolescentes das periferias expressaram sua "insatisfação"
queimando carros, degradando a infra-estrutura urbana e lutando
contra a polícia e as autoridades.
Paris “perdeu”
o trem na estação
Londres desenvolveu seu próprio projeto urbano, chamado
"Grande Londres", nos anos 60, evitando assim o
declínio e o isolamento de seus subúrbios e
promovendo a incorporação da periferia aos centros
mais ricos.
Seguindo uma tendência secular, Paris, nos anos 60,
escolheu ignorar o novo dilema urbano e deixou que sua periferia
e seu centro fossem, por assim dizer, separados. Por falta
de reação ao “boom” demográfico
e econômico da década de 60, os problemas urbanos
foram apenas postergados. Enfrentá-los hoje vai ser
certamente mais difícil e mais caro do que teria sido
na época.
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