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As vendas
do comércio varejista cresceram em 2004 pela primeira
vez desde 2001, ano em que o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) começou a pesquisar
o setor. Em volume, a expansão chegou a 9,25% em comparação
com o ano anterior. Em 2003, houve queda de 3,67%.
Crédito farto e com prazos mais longos, aumento da
confiança do consumidor e, mais recentemente, recuperação
do mercado de trabalho foram os fatores que impulsionaram
o varejo em 2004, dizem IBGE e especialistas.
Com maior número de prestações e juros
mais baixos do que em 2003, o ramo de móveis e eletrodomésticos
liderou o crescimento do comércio. A alta ficou em
26,37% no ano.
As vendas de super e hipermercados tiveram um desempenho bem
mais modesto (7,22%), mas avançaram ao final do ano,
sob impacto da recuperação do rendimento nos
últimos meses de 2004 e do aumento do emprego.
Em dezembro, subiram 12,36% ante igual mês de 2003.
A taxa supera o crescimento médio do comércio
-de 11,43%, na 13ª alta consecutiva nas vendas.
"O setor de supermercados teve um movimento diferenciado.
Começou a crescer com mais força no final do
ano, quando a renda iniciou sua recuperação.
Já os móveis e eletrodomésticos reagiram
no final de 2003 e mantiveram a tendência por todo o
ano de 2004 em razão do crédito", afirmou
Nilo Lopes de Macedo, economista do Departamento de Comércio
e Serviços do IBGE.
Em dezembro, o ramo de móveis e eletrodomésticos
subiu 23,46%. A ampliação do crédito
também beneficiou o setor de veículos, motos
e peças, cujas taxas de expansão foram de 18,7%
em dezembro e 17,8% no acumulado de 2004. O setor não
integra a taxa média do comércio, pois inclui
o atacado.
Para Carlos Thadeu de Freitas, economista da CNC (Confederação
Nacional do Comércio), o crédito foi determinante
para o bom resultado do setor. Nem mesmo as seguidas altas
da Selic desde setembro de 2004, diz, afetaram o crediário,
já que os "juros longos" (cuja referência
são contratos de seis meses a um ano, negociados na
BM&F) não subiram na mesma proporção
da taxa básica.
"O juro do comércio subiu pouco. E o mais importante
é que essa alta foi compensada pelo aumento no número
de prestações. O consumidor quer saber só
se a parcela cabe no seu orçamento", afirmou Freitas.
Com base ainda na expansão do crédito e numa
reação mais firme do mercado de trabalho, a
CNC espera, em 2005, mais um ano de crescimento: projeta uma
elevação de 4% nas vendas do varejo.
"Haverá uma desaceleração natural,
mas será ainda um bom ano, pois o sistema financeiro
está bastante líquido [há muito dinheiro
a emprestar], mais competitivo e a renda vai continuar a crescer."
Pelos dados do IBGE, o rendimento médio caiu 0,8% em
2004 em comparação com 2003, mas registrou avanço
de 1,9% em dezembro ante o mesmo mês de 2003.
Tanto Freitas como Lopes de Macedo destacam mais dois fatores
que impulsionaram o comércio em 2004: redução
da inadimplência e maior confiança do consumidor.
"Com mais gente empregada e a perspectiva de crescimento
econômico, as pessoas se sentiram mais seguras para
pegar um financiamento", afirmou Lopes de Macedo.
Mas nem esses efeitos positivos, beneficiaram combustíveis
e vestuário, cujas vendas cresceram em dezembro 3,36%
e 4,89%, respectivamente. Em ambos os casos, o desempenho
ficou abaixo da média do comércio. Em combustíveis,
os preços mais elevados prejudicaram as vendas.
PEDRO SOARES
da Folha de S. Paulo, sucursal do Rio de Janeiro
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