O Ministério
da Educação incluirá, a partir deste
ano, a raça do candidato entre os critérios
de classificação e seleção para
o Fies, o financiamento destinado a estudantes de instituições
particulares de ensino superior.
De acordo com a nova pontuação adotada pelo
governo, a chance de um aluno que se declarar negro ser aceito
no Fies será 20% maior que a de um branco.
Além disso, caso haja empate no processo de seleção
entre um candidato branco e um que se declarar negro, o segundo
terá prioridade. Se o empate ocorrer entre dois negros,
o desempate será feito considerando o que tiver a mãe
como arrimo de família.
A autodeclaração da raça será
feita na inscrição do aluno para o Fies, que
acontecerá em agosto.
"É uma iniciativa nova do governo visando ampliar
as ações afirmativas", disse ontem o secretário
da Educação Superior do MEC, Nelson Maculan
Filho.
Para o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes),
Gustavo Petta, a medida é importante, mas não
resolverá o problema de acesso ao financiamento. "Mesmo
com esse tipo de ação, o aluno carente não
conseguirá ter acesso ao Fies porque não tem
condição de apresentar um fiador como é
exigido", disse.
Entre os critérios de seleção dos candidatos
estão renda mensal familiar, se ele é professor,
tem ou não diploma de curso superior e estudou em escola
pública.
Com base em oito itens, é feito o índice de
classificação dos alunos em cada um dos cursos
da instituição de ensino superior credenciada.
A autodeclaração da raça será
incluída nesses critérios.
Segundo o secretário, neste ano devem ser concedidos
entre 40 mil e 50 mil novos financiamentos. O número
varia porque no Paraná e no Rio Grande do Sul há
decisões da Justiça determinando a não-exigência
de fiador.
Desde 1999, quando o Fies começou a funcionar, foram
beneficiados cerca de 273 mil alunos de instituições
privadas, envolvendo recursos que chegam a R$ 1,779 bilhão.
Neste ano, estão previstos no Orçamento da União
R$ 871,6 milhões para novos contratos.
O projeto de lei para a criação do Prouni (Programa
Universidade para Todos), enviado pelo governo ao Congresso,
prevê a vinculação do credenciamento ao
Fies apenas de instituições que oferecerem bolsa
de estudo integral a alunos carentes. A proposta não
deve ser adotada neste ano.
Dívida
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, praticamente
descartou ontem que o Brasil venha a ser beneficiado por perdão
de dívida para aplicação em projetos
sociais, como educação.
A afirmação foi feita ao comentar a proposta
aprovada na semana passada por ministros da Educação
do Mercosul de trocar parte da dívida de países
em desenvolvimento por investimentos em ensino. A medida depende
da aprovação dos presidentes desses países,
que se reunirão em julho.
"Iniciativas como essa, de perdão da dívida
de países muito pobres, são positivas.
Nós temos defendido esses processos, mas é bom
entender que eles não nos beneficiam, pois se direcionam
a países muito pobres", disse ele.
A proposta aprovada pelos ministros da Educação
prevê que uma parte dos juros e dos serviços
da dívida seja negociada entre países credores
e devedores para aplicação direta em projetos
educacionais e a fundo perdido.
LUCIANA CONSTANTINO
da Folha de S.Paulo
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