A
maior parte dos alunos dos ensinos fundamental e médio
não sabe resolver questões de matemática
compatíveis com a série que cursam. A situação
é ainda pior no 3º ano do ensino médio:
68,8% deles tiveram nível de conhecimento classificado
entre crítico e muito crítico em 2003.
Isso significa que não conseguem interpretar o enunciado
de uma questão para chegar ao resultado matemático.
Esse alto índice não é novidade. Em 2001,
67,4% dos alunos do 3º ano do médio já
tinham ficado nesses estágios de classificação.
Os resultados incluem estudantes das redes pública
e particular.
Dos alunos da 4ª série, 51,6% tiveram desempenho
crítico e muito crítico em matemática
no ano passado. Já entre os da 8ª série,
o índice ficou em 57,1%.
Em língua portuguesa, os percentuais são piores
na 4ª série do fundamental: 55,4% tiveram classificação
crítica ou muito crítica.
Melhoraram os alunos da 8ª série (26,8% nessa
classificação) e do ensino médio -38,6%.
Esses resultados foram apresentados ontem pelo Ministério
da Educação na divulgação do Saeb
(Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica) 2003.
"Se há problemas de interpretação
de texto, há também dificuldade em matemática.
Além disso, ainda temos muitos professores na educação
básica com formação insuficiente",
disse o secretário da Educação Básica
do MEC, Francisco das Chagas Fernandes.
Melhora em português
A notícia boa entre os números é
que, pela primeira vez desde 1995, a média obtida pelos
alunos da 4ª série do ensino fundamental na prova
de língua portuguesa apresenta uma melhora em relação
à avaliação anterior. Passa de 165,1
para 169,4 entre os anos de 2001 e 2003, em uma escala geral
de 500 pontos. Mas ainda está em patamares abaixo do
satisfatório -200 pontos nesse caso.
Todas as regiões brasileiras apresentaram melhora na
média de desempenho dos alunos da 4ª série
em língua portuguesa. A melhor foi a Centro-Oeste,
seguida do Nordeste. "Pretendemos utilizar as boas experiências
de projetos que estão melhorando a qualidade para difundi-las
para outros Estados e regiões", afirmou Eliezer
Pacheco, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais).
Considerado o mais importante método para avaliar a
qualidade da educação brasileira, o Saeb era
feito a cada dois anos, desde 95. Os resultados podem ser
comparados de um exame para o outro. Participam alunos da
4ª e da 8ª série do ensino fundamental e
do 3º ano do médio. No ano passado, 300 mil alunos
o fizeram.
A partir de novembro, o Ministério da Educação
quer universalizar a prova e aplicá-la anualmente.
Segundo o presidente do Inep, isso permitirá que os
gestores públicos tenham informações
sobre o desempenho de cada escola, não só por
região ou Estado.
Financiamento
Para o ministro Tarso Genro (Educação),
os resultados do Saeb não mudam significativamente,
mas apontam um processo de transformação da
qualidade do ensino no Brasil. "Os dados demonstram que
a educação tem saída com o enorme esforço
feito por Estados e municípios, com a colaboração
da União."
O presidente do Consed (conselho dos secretários estaduais
do setor), Gabriel Chalita, de São Paulo, afirmou que
a melhoria passa pela discussão do financiamento da
educação básica.
"Mesmo os Estados que investem os maiores valores ainda
ficam abaixo do necessário para ter uma educação
de qualidade. Não há recursos sobrando. Precisamos
de complemento da União", disse, referindo-se
aos debates para a criação do Fundeb, o fundo
para financiar a educação básica.
Particulares
Ao considerar só o desempenho de alunos das
escolas particulares, houve aumento na média dos alunos
da 4ª série em língua portuguesa. Mas nas
regiões Norte e Nordeste, a média ainda fica
abaixo dos 200 pontos considerados satisfatórios -194,94
e 194,13, respectivamente.
LUCIANA CONSTANTINO
da Folha de S.Paulo
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