Entre
os 25% de jovens de 14 a 19 anos das classes A e B que mantêm
um padrão de consumo de álcool considerado de
risco pela Organização Mundial de Saúde
-como aponta pesquisa do Programa de Orientação
e Atendimento a Dependentes-, metade é forte candidata
ao alcoolismo, diz o psiquiatra Dartiu Xavier, autor do estudo.
Segundo a pesquisa, 15% desses jovens bebem moderadamente
para padrões adultos, o que já compromete sua
saúde. Outros 10% têm um consumo de álcool
considerado pesado pela OMS, o que significa que implica danos
irreversíveis ao organismo.
A pesquisa mostra ainda que 70% dos jovens com vida sexual
ativa pesquisados usam preservativo de forma irregular e,
mesmo assim, mais de 75% deles acha que não corre risco
de contrair o vírus da Aids.
"Quando o jovem consome bebidas, perde mesmo a capacidade
crítica. A negociação do uso de camisinha
fica difícil, quando não há esquecimento
mesmo", explica Ana Glória Melcop, da Rede Brasileira
de Redução de Danos.
"Esses jovens se sentem distantes e protegidos da Aids
por uma questão de classe e pela sociedade medicalizada",
avalia a psicóloga, consultora em educação
e colunista da Folha Rosely Sayão. Para ela, "é
cada vez maior a arrogância desses jovens em relação
à vida" e, por isso, eles assumem comportamentos
de risco.
Para o psicanalista Contardo Calligaris, colunista da Folha,
"correr riscos é algo próprio da adolescência".
"Mas, em vez de arrancar os cabelos por considerar essa
atitude imoral ou perigosa, o melhor seria constituir políticas
de saúde baseadas em comportamentos estabelecidos",
diz.
Até agora, o governo fez pouco para combater o consumo
de álcool.
Preocupações distorcidas
Os perigos desse uso abusivo da bebida, no entanto,
não param por aí. O álcool é apontado
por diversas pesquisas como a principal causa de acidentes
de trânsito, que, por sua vez, estão entre as
três principais causas de morte de jovens brasileiros
de 15 a 24 anos.
Um levantamento feito em 2003 mostrou que 100% das pessoas
que davam entrada no pronto-socorro de Paulínia nos
finais de semana, após se envolverem em acidentes de
trânsito, quedas ou brigas, estavam alcoolizadas.
"A preocupação dos pais e das escolas com
as drogas ilícitas fez com que houvesse negligência
em relação ao álcool e sua ligação
com comportamentos de risco, acidentes e violência.
Há até um estímulo da sociedade para
o consumo de bebida", diz Melcop.
Basta ligar a TV ou olhar os outdoors para perceber que o
público-alvo das campanhas da indústria do álcool
é o jovem. "A publicidade de bebida bate pesado
justamente nessa população. E a gente sabe que
o adolescente é vulnerável a essa influência",
afirma Xavier. "Existe uma crença generalizada
de que o álcool é uma substância inócua
porque é legal", diz. Xavier afirma ser muito
procurado por pais preocupados com um filho que fuma um cigarro
de maconha por mês enquanto outro filho bebe todos os
dias sem que isso provoque alerta.
As informações são
da Folha de S.Paulo.
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