O Brasil
é o quinto em um ranking de 67 países com as
maiores taxas de homicídios de jovens na faixa dos
15 aos 24 anos. A cada 100 mil jovens brasileiros, 52,1 foram
assassinados em 2000. Somente Colômbia, Ilhas Virgens,
El Salvador e Venezuela tiveram taxas superiores.
De 2000 para 2002, a situação no país
piorou: a taxa passou para 54,5 assassinatos por 100 mil jovens.
Analisando a evolução entre 1993 e 2002, detecta-se
um aumento de 88,6% nas mortes de jovens. São provocadas
por armas de fogo em um terço dos casos. A maioria
das vítimas é homem, negro e morre aos finais
de semana.
O ritmo de crescimento do número de assassinatos entre
os jovens é maior do que na população
total. No mesmo período, o aumento de homicídios
na população geral (considerando todas as faixas
etárias) foi de 62,3%. Em números absolutos,
foram mortos 49.640 brasileiros em 2002.
Sem divisão por faixa etária, o ranking divulgado
ontem pela Unesco (Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)
mostra o Brasil com a quarta maior taxa de assassinatos por
100 mil habitantes entre os 67 analisados. Nesse caso, o ano
de referência é 2000, por trazer dados comparáveis
aos de outros países, nem sempre atualizados.
Mapa
O quadro está traçado no livro "O
Mapa da Violência 4 - Os Jovens do Brasil", do
pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, divulgado em Brasília.
Publicada a cada dois anos, a pesquisa é a quarta feita
pela Unesco para traçar a situação dos
jovens.
Os resultados divulgados no mapa anterior já indicavam
que os jovens eram os mais afetados pelo crescimento no número
de homicídios no Brasil na última década.
Desta vez, Waiselfisz voltou a analisar dados das regiões
metropolitanas, incluiu a incidência do fator raça
e aumentou o número de países na comparação
internacional.
Com base em dados do IBGE e do Ministério da Saúde,
o pesquisador chega a conclusões alarmantes: 39,9%
das mortes de jovens brasileiros em 2002 se devem a homicídios.
Aliados a acidentes de trânsito e suicídios,
são as principais causas de morte entre os que têm
de 15 a 24 anos.
"Qualquer solução que se queira dar para
a violência e os homicídios tem de passar pela
juventude", conclui o pesquisador. Ele ressalta que o
custo da violência no país pode chegar a 10%
do PIB (Produto Interno Bruto), segundo suas próprias
contas.
"Todos os gastos aplicados em educação
no Brasil chegam a 5,3% do PIB. Com isso, o custo da violência
é o dobro do que se investe no ensino."
Usando o mesmo argumento, Jorge Werthein, representante da
Unesco no Brasil, insiste na necessidade de criar políticas
públicas voltadas para a juventude.
"Hoje existem ações separadas. É
necessário criar uma política pública
que as organize. Precisamos dar respostas para combater a
violência não apenas de forma repressiva, mas
também preventiva, mantendo os jovens na escola. Dar
uma bolsa por mês ao aluno é mais barato do que
manter Febens", afirma Werthein.
O governo federal, representado no lançamento do livro
pelo ministro Agnelo Queiroz (Esporte), lembra que criou grupo
de trabalho para cuidar de políticas voltadas para
os jovens.
Para a pesquisadora Edinilsa Ramos de Souza, do Claves (Centro
Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde),
ligado à Fundação Oswaldo Cruz, outros
fatores que contribuem para o alto número de homicídios
entre jovens são o aumento dessa população
na década de 80, o envolvimento com o tráfico
de drogas e o contrabando de armas. "É fundamental
desarmar a população."
Já o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência
da USP Paulo Sérgio Pinheiro destaca, além da
falta de uma política articulada, a necessidade de
combate ao crime organizado e a melhoria do sistema prisional.
"Esse é o quarto Mapa da Violência, e a
situação continua igual porque o governo não
respondeu à altura", afirma Pinheiro, que foi
secretário nacional dos Direitos Humanos entre novembro
de 2001 e dezembro de 2002.
LUCIANA CONSTANTINO
da Folha de S.Paulo
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