Antes
mesmo de o Congresso aprovar a criação de cotas
para alunos de escolas públicas, negros e índios
nas universidades federais, o Ministério da Educação
(MEC) quer incluir, no projeto de reforma universitária,
uma redução progressiva no oferecimento das
vagas, a ser iniciada num prazo de cinco a dez anos. O MEC
vai propor também mudanças nos cursos de graduação,
com a criação de um ciclo básico nacional
de dois anos, comum a todos os cursos em instituições
públicas e privadas.
A reforma universitária vai incluir ainda um modelo
de financiamento das universidades federais que levará
em conta metas de qualidade e expansão. As três
medidas fazem parte de um pacote de 15 propostas de reforma
universitária que serão anunciadas hoje pelo
ministro Tarso Genro.
A redução progressiva das cotas, que Tarso
chama de regressividade, será vinculada à melhoria
da qualidade da educação básica. O raciocínio
é aparentemente simples: à medida em que recebam
melhor formação, alunos da rede pública,
incluindo negros e índios, chegarão ao vestibular
mais preparados e, portanto, em condições de
dispensar a reserva de vagas.
"Elas (cotas) serão desnecessárias, se
todos tiverem as mesmas oportunidades", disse Tarso.
"Só é possível discutir a regressividade
com a certeza de que os ensinos fundamental e médio
serão qualificados".
Cota estadual
De autoria do governo, o projeto de lei que institui
as cotas foi enviado ao Congresso em maio e já prevê
a revisão do sistema especial após dez anos,
mas não menciona o critério de regressividade.
O texto determina que 50% das vagas nos vestibulares das instituições
federais sejam reservados a quem tenha cursado todo o ensino
médio em escola pública, com preferência
a negros e índios. A cota racial, no entanto, varia
de estado para estado, proporcionalmente ao número
de negros e índios indicado pelo último censo
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Outro tema que o ministro pretende incluir na reforma, a
criação de um ciclo básico de dois anos
comum a todos os cursos de graduação, é
uma proposta que o próprio Tarso reconhecer ser “bem
arrojada”.
"Temos que estabelecer uma ponte mais adequada entre
a educação básica, renovada e qualificada,
com a escolha profissional".
O curso básico seria formado por matérias da
área de humanas e exatas. A idéia é que
seja comum a todos os cursos, do direito à medicina,
passando pelas engenharias e a administração.
Mas poderia sofrer adaptações e incluir disciplinas
diferentes, de acordo com a área de conhecimento do
curso. Segundo o ministro, o ciclo básico não
daria direito a diploma, pois seria parte da graduação.
Com a mudança, a duração dos cursos
poderia ser ampliada, em combinações do tipo:
dois anos de ciclo básico, mais três ou quatro
de graduação específica. No caso do curso
de direito, que atualmente dura cinco anos, isso poderia representar
um ano a mais de estudo.
"Não temos ainda definição",
disse Tarso, esclarecendo que o pacote de propostas de reforma
universitária poderá ser alterado até
novembro, quando o MEC pretende enviar ao Congresso um projeto
de Lei Orgânica do Ensino Superior.
No dia 23, terá início em Manaus uma série
de cinco audiências públicas regionais para debater
as propostas. O MEC pretende criar ainda um fundo, nos moldes
do atual Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(Fundef), para financiar as universidades. Os recursos virão
de impostos existentes, disse Tarso, assegurando que não
haverá aumento nas atuais alíquotas. A idéia
central é que o fundo não fique sujeito a contingenciamentos
e garanta a autonomia financeira das instituições.
Parte dos recursos será repassada a critério
do MEC, levando em conta seus programas de expansão
e qualificação.
DEMÁTRIO WEBER
CHICO OLIVEIRA
do jornal O Globo
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