Alunos
aprovados por cotas em 30 cursos da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (Uerj) tiveram nota máxima inferior
à pontuação mínima dos candidatos
não-cotistas. Os dados, referentes ao último
vestibular da instituição, fazem parte de um
dossiê preparado pela reitoria da universidade, ao qual
O GLOBO teve acesso. No relatório também há
informações sobre o desempenho dos estudantes
cotistas, aprovados em 2003. Ao contrário do que a
Uerj acreditava, o rendimento dos alunos que entraram na universidade
graças à reserva de vagas foi pior que o dos
alunos não-cotistas.
Em 2003, problema ocorreu em apenas seis carreiras
No caso do vestibular 2004, no curso de odontologia, a
pontuação mínima entre as vagas não
reservadas foi 74,2, num total de 110 pontos. Já a
pontuação máxima dos deficientes foi
49,75; a dos negros foi 65,9; e a dos alunos da rede pública,
71,75. Em medicina, por exemplo, a pontuação
mínima dos não-cotistas foi 94,85, num total
de 110 pontos (a máxima foi 102 pontos). Na reserva
de vagas para deficientes físicos e índios,
a nota máxima foi 79. Entre os negros, a maior pontuação
foi 95,85; e entre os aprovados da rede pública a maior
nota foi 96,7.
Em 2003, esta diferença entre as notas dos cotistas
e não-cotistas aconteceu em apenas seis carreiras (desenho
industrial, geologia, medicina, oceanografia, odontologia
e relações públicas).
Ainda segundo o relatório, em 17 carreiras da Uerj
foram aprovados candidatos com notas inferiores a 20 pontos.
Apesar do desempenho ruim dos cotistas no vestibular, a reitoria
da Uerj diz que não faz distinção entre
seus alunos. Segundo a universidade, a meta agora é
lutar junto ao governo estadual para obter recursos suficientes
para garantir a permanência dos estudantes na instituição.
"A partir do momento em que o candidato passa no vestibular,
seja cotista ou não, ele vira aluno e está sob
a nossa responsabilidade. O cotista da rede pública,
por exemplo, que sempre teve uniforme, transporte, livros
e alimentação gratuitos, foi jogado aqui na
universidade. Precisamos de recursos para equipar laboratórios,
bibliotecas, construir um bandejão", disse Raquel
Villardi, sub-reitora de Graduação da Uerj e
uma das responsáveis pelo relatório.
Pioneira no país na realização de vestibular
com cotas, a Uerj divulgou no fim do ano passado um estudo
feito pelo Departamento de Estudos Pedagógicos da instituição.
Nele, afirma que o desempenho dos alunos aprovados pelas cotas
em 2003 era igual ou superior ao dos não-cotistas.
A comparação era feita com base no coeficiente
de rendimento (CR) dos estudantes e, segundo a reitoria da
universidade, não mostrava a realidade.
Segundo o reitor da Uerj, Nival de Almeida, o índice
de reprovação de cotistas nos cursos do centro
biomédico, por exemplo, é quatro vezes maior
do que entre os não-cotistas.
"O departamento fez uma leitura preliminar dos dados.
Pegamos as mesmas informações e analisamos de
outra forma. O CR não serve como referência,
porque há mais desistência nos curso entre os
alunos não-cotistas. Com isso, aumenta a quantidade
de CR zero. A reprovação por nota é maior
entre os cotistas em todos os centros da Uerj", disse
Nival. E acrescentou: "Mesmo tirando notas mais baixas,
o cotista não desiste facilmente da vaga. Seu resultado
ruim no curso é um reflexo do ensino de baixa qualidade
que ele teve durante toda a educação básica.
As informações são
do jornal O Globo.
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