A quatro
meses das eleições municipais, o governo federal
aboliu, por meio de uma medida provisória, a exigência
de os municípios estarem em dia com o INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social) para receber dinheiro de programas
sociais.
Até antes da edição da medida provisória
190, que circulou no "Diário Oficial da União"
de ontem, os municípios eram obrigados a apresentar
uma vez a cada três meses a CND (Certidão Negativa
de Débito), emitida pelo INSS, ao Ministério
do Desenvolvimento Social. Sem o documento, a pasta não
liberava recursos.
Ou seja: as prefeituras não recebiam dinheiro para
financiar, por exemplo, abrigos para idosos ou para programas
como o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil) e o Sentinela (programa de combate à exploração
sexual), entre outros.
Os repasses do Bolsa-Família, programa de transferência
de renda do governo federal, não estão vinculados
à CND. As pastas da Saúde e da Educação-por
decisão de governos anteriores- também repassam
dinheiro aos municípios independentemente da apresentação
da certidão.
O ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) afirmou
que a decisão não tem vínculo com a proximidade
das eleições: "Temos compromissos históricos
com os pobres, e não somos movidos por outros interesses
a não ser a construção da justiça
social".
Para ele, "as políticas sociais não estão
subordinadas à política econômica. A idéia
do governo não é esperar a economia crescer
para incluir [os pobres] e sim incluir para crescer",
afirmou Ananias.
Na mesma MP, o governo autorizou o pagamento de até
R$ 300 para famílias que tenham sido atingidas por
desastres, como enchentes. A exigência é morar
em um município que esteja em situação
de emergência ou de calamidade pública reconhecidas
pelo governo e ter renda mensal média de até
dois salários mínimos.
A secretária Nacional de Assistência Social,
Márcia Lopes, informou que todos os meses, em média,
15% das cidades deixam de receber verbas sociais por não
terem a certidão emitida pelo INSS, totalizando um
bloqueio que varia de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões
para todo o país.
Até o mês passado, dos 5.569 municípios
brasileiros, 1.927 tinham dívidas com o INSS. Em maio,
por exemplo, 1.142 municípios deixaram de receber dinheiro
de programas da área da infância, o que representa
27% do total das cidades beneficiadas por essas ações.
Só o Peti deixou de pagar 289 municípios. O
número de municípios varia muito a cada mês.
Enquanto uns acertam as dívidas, outros entram na lista
.
Há cinco municípios paulistas na lista dos inadimplentes
de maio: Cesário Lange, Guaratinguetá, Tapiraí,
Tatuí e Ubatuba.
Patrus disse que o papel do seu ministério é
atender a parcela pobre da população:
"A função de fiscalizar e de punir os inadimplentes
é do Judiciário, do Ministério Público,
da Controladoria Geral da União dos Tribunais de Contas
e da Polícia Federal".
Ananias aproveitou para atacar o governo passado. "Aqueles
que dizem que há imobilismo na área social não
estão seguido o preceito bíblico do respeito
a verdade."
Segundo o ministro, o governo Lula recebeu uma "herança
social agravada". "As 11,4 milhões de famílias
que vivem abaixo da linha da pobreza não começaram
a existir no dia 1º de janeiro de 2003".
GABRIELA ATHIAS
da Folha de S.Paulo
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