Até
o governo concorda. O ensino médio, o antigo Segundo
Grau, é um verdadeiro gargalo no sistema educacional
brasileiro. Prova dos problemas está nas pesquisas
do Ministério da Educação (MEC), que
acusam deficiências na formação dos professores,
baixa qualidade do ensino, altos índices de evasão
e reprovação. São tantos que apenas a
adoção da política de cotas para facilitar
o acesso de alunos da rede pública às universidades
federais não será suficiente para dar a eles
uma formação de qualidade.
Para começar, o número de matriculados é
muito menor do que deveria ser. Dos cerca de dez milhões
de brasileiros entre 15 e 17 anos, apenas 33,3% cursam o ensino
médio. Os demais estão fora da escola ou atrasados.
Os índices de abandono e reprovação são
altos: cerca de um milhão de estudantes abandona as
salas de aula anualmente e 650 mil são reprovados nas
três séries.
A isso somam-se a falta de professores qualificados e a deficiência
na formação dos que hoje lecionam. Numa afronta
ao que o prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação,
de 1996, há professores do ensino médio que
sequer concluíram a 8ª série do ensino
fundamental. E 9% do total têm apenas o ensino médio.
Faltam professores capacitados. O MEC estima que, somente
nas áreas de biologia, química, física
e matemática, há um déficit de 250 mil
professores, e as vagas são preenchidas por profissionais
menos capacitados.
No 3º ano, poucos sabem matemática
O resultado é um imenso descompasso em relação
ao ensino fundamental e ao ensino superior. Igualmente crítica
é a qualidade do aprendizado. Dados do Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Básica
(Saeb) apontam, por exemplo, que 67% dos alunos do 3 ano do
ensino médio — série anterior à
entrada na faculdade — pouco sabem de matemática.
Estão nos níveis “crítico”
ou “muito crítico”, o que significa que
sabem apenas algumas propriedades, conhecem o básico
de geometria e pouco de funções logarítmicas
e exponenciais. Apenas 6% dos estudantes estão em estágio
considerado adequado.
Em português, o quadro é um pouco melhor, mas
não menos preocupante: 42% dos alunos se encontram
nos níveis “crítico” ou “muito
crítico”. Conseguem apenas ler textos simples.
Em condições de entender textos mais complexos,
com conhecimento razoável da língua, estão
só 5%.
O MEC atribui os problemas à desatenção
dispensada historicamente ao nível médio, sem
políticas públicas voltadas à sua melhoria.
" As políticas de educação não
conseguiram dar prioridade a essa área. Concentraram-se
no ensino fundamental", diz a diretora de ensino médio
da Secretaria de Educação Básica do MEC,
Lúcia Helena Lodi.
Ano passado, ingressaram no ensino médio 9,1 milhões
de estudantes. Desses, oito milhões entraram em escolas
públicas, contra 1,1 milhão matriculados em
estabelecimentos particulares. O número de matrículas
vem crescendo ano a ano, reflexo da ampliação
do acesso ao ensino fundamental. De 2002 para 2003 houve aumento
de 400 mil alunos. Com a proposta do governo de reservar 50%
das vagas nas universidades para alunos egressos da rede pública,
o MEC já espera um aumento ainda maior da demanda.
Pela Constituição, a responsabilidade pela
manutenção do ensino médio é dos
governos estaduais, que arcam sozinhos com as despesas. Diferentemente
do que ocorre da 1 à 8 série, em que o governo
federal repassa recursos por meio do Fundo de Desenvolvimento
do Ensino Fundamental (Fundef), o ensino médio praticamente
não recebe verbas da União. E como boa parte
dos estados vive em dificuldades financeiras, a qualidade
do ensino varia entre as unidades da federação.
As informações são
do jornal O Globo.
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