A empresária
Gildete de Freitas, 33 anos, tem medo de fazer doações
a entidades assistenciais. Como seus colegas da loja, Gildete
foi ludibriada por uma falsária que dizia recolher
alimentos, roupas e dinheiro para crianças carentes
com câncer e HIV.
Comovida com a história da mulher, que dizia ter câncer,
Gildete doava roupas e comprava canetas e adesivos da instituição,
localizada na zona sul de Porto Alegre. Mas as doações
nunca chegaram às crianças. A fraude foi descoberta,
e a mulher nunca mais apareceu. Mas, para a empresária,
ficou o receio de ser lograda mais uma vez.
"Vou pensar muito antes de doar de novo", diz.
Pessoas mal-intencionadas e estelionatários estão
pelas ruas prejudicando o trabalho de entidades sérias
de assistência social que sobrevivem de doações.
Os desvios prejudicam o atendimento de crianças carentes,
idosos abandonados, portadores de deficiência. Para
que a vontade de ajudar não se converta em engano,
e para que o dinheiro se transforme em ação
é necessário tomar precauções
e optar por formas seguras de destinar recursos.
Estelionato na área social não é coisa
rara. No ano passado, a Associação dos Pais
e Amigos dos Excepcionais também foi vítima
de falsários. O mesmo ocorreu com a Sociedade Emanuel,
que descobriu pessoas pedindo dinheiro em seu nome nas sinaleiras.
As precauções a serem tomadas variam de acordo
com os meios de doação. Os pedidos chegam por
representantes de entidades nas esquinas, por telefone, cartas
e campanhas.
"O cidadão pode doar o que quiser para entidades
em geral, mas, em vez da doação na esquina,
é melhor que procure uma entidade próximo de
sua casa ou que se identifique com uma causa. Na rua, não
há garantia de que estão recolhendo em nome
da entidade", afirma o secretário estadual do
Trabalho, Cidadania e Assistência Social, Edir Oliveira.
Especialistas na área social são unânimes:
as pessoas devem visitar, telefonar e ter certeza de que estão
doando para o lugar desejado. No caso da falsária que
lesou Gildete, as doações pararam de chegar
ao seu destino - o Centro Infantil Renascer da Esperança,
no bairro Restinga -, e as crianças carentes correram
o risco de ter a instituição fechada por falta
de recursos.
"Ficamos zerados. Depois que ela foi descoberta, as
coisas melhoraram, e o pessoal voltou a doar", afirma
a diretora do centro, Rozeli da Silva.
O delegado Thiago Firpo, da 16ª DP da Capital, que investiga
a ação da falsária, aconselha que as
pessoas visitem as entidades antes de enviar doações
ou colocar dinheiro na mão de alguém.
Veja nas próximas matérias as dicas de especialistas
e instituições sobre como ser solidário
e se certificar de que o seu dinheiro está sendo bem
empregado pelas entidades assistenciais.
Aprenda a fiscalizar:
Veja as dicas de especialistas sobre onde conferir
as informações das entidades com que você
pretende colaborar:
-Procure conhecer a entidade a que você pretende ou
costuma doar. Ligue, visite e peça informações
sobre o trabalho desenvolvido e a destinação
das doações.
- Nenhuma entidade séria recusa a visita de um doador
- Converse com os beneficiados pela entidade e com os familiares
deles para saber se os recursos estão sendo bem empregados
e se as pessoas são bem tratadas pela instituição
e por seus funcionários
- Exija acesso ao balanço patrimonial. Assim você
conhecerá custos, arrecadação, gastos
e investimentos
- Caso tenha dúvidas da existência ou da idoneidade
de alguma instituição assistencial, alguns órgãos
podem ajudar:
- Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente
de Porto Alegre: (51) 3221-6865. A lista das entidades de
assistência a crianças e adolescentes registradas
na prefeitura também está disponível
no site do Funcriança (www.portoalegre.rs.gov.br/funcrianca)
- Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente de
Porto Alegre: (51) 3221-2087
- Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Cedica): (51) 3288-6625
- Divisão de Registro de Entidades da Secretaria Estadual
do Trabalho, Cidadania e Assistência Social: (51) 3288-6655
MÁRCIO BRITO
do Jornal Zero Hora
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