SÃO
PAULO. Para ter o mesmo padrão de saúde do Japão,
de ensino médio do Chile ou de habitação
da Dinamarca, o Brasil teria de investir R$ 4,5 trilhões
nos próximos 16 anos. Considerados oito itens necessários
para a inclusão social avançada dos brasileiros,
a soma sobe para R$ 7,2 trilhões — o que representa
investimentos equivalentes a 27,6% do Produto Interno Bruto
(PIB) de 2004, por ano, até 2020 — segundo estudo
divulgado ontem. Para um nível de inclusão social
intermediário, seria preciso investir R$ 3,8 trilhões,
ou 14,5% do PIB nos próximos 16 anos. O levantamento
foi feito por 17 pesquisadores de diversas áreas. Os
resultados foram reunidos em um livro que será lançado
no Fórum Social Mundial na próxima semana.
"O livro se propõe a fazer um prognóstico
da área social. É uma agenda para a organização
de metas de inclusão social. A ênfase dos governos
na organização das áreas econômicas
acaba desorganizando a área social. Temos metas fiscais,
mas não sociais", afirma o economista e ex-secretário
municipal do Trabalho de São Paulo Marcio Pochmann,
um dos organizadores do livro.
Os pesquisadores, no entanto, não dizem de que forma
a inclusão pode ser feita.
"É um pacto social, político, que pode
receber recursos públicos ou privados. Se continuarmos
com níveis de investimento feitos em inclusão
social, chegaremos a 2020 com indicadores piores do que os
atuais", diz Pochmann.
Chile
O estudo utiliza dois padrões de inclusão:
intermediário e avançado, com base em indicadores
de países desenvolvidos. As comparações
são feitas em oito itens: educação, saúde,
habitação, cultura, informática, pobreza,
emprego e reforma agrária e Previdência Social.
O Chile, por exemplo, tem hoje 85% dos jovens entre 15 e
17 anos matriculados no ensino médio, o que foi considerado
um nível avançado pelos pesquisadores. Os Estados
Unidos têm 54,2% dos adolescentes matriculados no ensino
médio, o que seria um nível intermediário.
Para chegar ao patamar americano, teriam de ser construídas
no país 18 mil salas de aulas para 1,8 milhão
de alunos, com a contratação de 325 mil professores.
Para alcançar o Chile, o número de alunos sobe
para 4,9 milhões. Nesse caso, seria necessário
construir mais 46.700 salas de aula.
O estado de São Paulo tem a maior dívida social
das unidades da Federação: R$ 1,4 trilhão
para se fazer uma inclusão avançada ou R$ 654,3
bilhões para uma inclusão intermediária.
A maior demanda é na área de saúde: R$
455,2 bilhões nos próximos 16 anos para alcançar
uma inclusão social avançada. A seguir vem educação,
que precisa de investimentos de R$ 446,6 bilhões.
Rio
"Em geral, os estados do Sul e do Sudeste, mesmo
os que têm uma grande dívida pública,
possuem mais recursos para organizar as áreas sociais
em comparação com os estados do Norte e do Nordeste",
diz Pochmann.
No ranking das maiores dívidas sociais, Minas Gerais
aparece em segundo lugar e a Bahia, em terceiro. Eles teriam
de investir R$ 715,9 bilhões e R$ 618,2 bilhões,
respectivamente, para atingir um nível avançado
de inclusão social.
De acordo com esse critério, o quarto lugar fica com
o Rio de Janeiro, com uma dívida social de R$ 542,8
bilhões. O estado que precisa de um menor volume de
recursos para promover uma inclusão social avançada
nos próximos 16 anos é Roraima: R$ 14,9 bilhões.
FABIANA PARAJARA
do Globo Online
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