Um ciclo
de juros mais altos nos países desenvolvidos está
a caminho, mas o Brasil está preparado para enfrentar
o que pode ser uma dificuldade para outros países em
desenvolvimento, acreditam economistas ouvidos pela BBC Brasil.
Não há consenso, no entanto, sobre a necessidade
de o Comitê de Política Monetária (Copom)
ter mantido as taxas atuais de juros do país em 16%
ao ano.
Para alguns, foi uma medida que acompanhou os humores dos
mercados internacionais. Mas outras vozes dizem que as altas
taxas de juros estão mais atrapalhando do que ajudando
o Brasil.
Para o diretor do departamento de América Latina do
Instituto de Finanças Internacionais (IIF) -, entidade
que reúne 320 instituições em mais de
60 países - Frederick Jasperson, a autoridade monetária
acertou ao agir com "cautela" num momento em que
havia dúvidas sobre o comportamento da inflação
e expectativa de mudanças internas.
O economista do Instituto de Economia Internacional e ex-conselheiro
do FMI John Wiliamson, no entanto, disse que ficou "desapontado"
com a manutenção da taxa por acreditar que o
Brasil está em condições de enfrentar
turbulências internacionais e ao mesmo tempo reduzir
os juros.
Metas
"O mais interessante do sistema de metas de
inflação é que a política monetéria
pode ser conduzida com base mais nos fatores internos do que
externos. Houve alguma desvalorização do real,
que poderia causar inflação, mas acho que não
se trata de algo que deveria provocar grande preocupação
agora", avalia Williamson.
Alguns analistas observaram ainda que taxas de juros altas,
se por um lado contêm a inflação, por
outro também complicam a saúde financeira do
Estado, já que a dívida interna é corrigida
com base nestas taxas.
Williamson esperava que nesta semana Copom tivesse cortado
os juros em 0,25 ponto porcentual.
"Não é muito, mas cortes assim, mês
a mês, trazem uma redução gradual e segura.
O importante é não haver uma interrupção",
acredita o economista.
Mas, para Frederick Jasperson, vale mais interromper a trajetória
de queda por algum tempo ao invés de fazer cortes pequenos,
com poucos efeitos sobre a economia real,mas forte sinal para
os mercados.
"Acho que o aumento dos juros nos países em desenvolvimento
vai acontecer de maneira gradual e bem ordenada, mas parece
certo que o começo deste novo ciclo está cada
vez mais perto.
"O que o Brasil não quer é chegar em agosto
ou setembro e perceber que algo está fora de controle",
diz Frederick Jasperson. "O momento não é
de reduzir juros."
PAULO CABRAL
da BBC Brasil
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