As instituições
de ensino superior privadas devem enfrentar falências
e fusões nos próximos anos, de acordo com especialistas.
Entre os que endossam esse diagnóstico estão
o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza,
o presidente da
Abmes (Associação Brasileira das Mantenedoras
do Ensino Superior), Edson Franco, e o ex-reitor da USP Roberto
Leal Lobo, que apresenta hoje, no Congresso Internacional
de Educação, uma palestra sobre o planejamento
estratégico das instituições como forma
de combate da atual crise que acomete o setor.
"Ao contrário do que se pensa, isso não
é um perigo nacional", diz Lobo. "A concorrência
é positiva. O risco é que, sem uma boa avaliação,
o aluno fica sem parâmetros e acaba escolhendo a faculdade
pelo preço", explica. "Aí, o ensino
vira commodity [produto de importância comercial]."
Nos últimos dez anos, o número de estabelecimentos
privados de ensino superior aumentou 116% -pulou de 666, em
1992, para 1.442, em 2002. Por outro lado, nesse período,
o perfil do estudante da rede particular mudou: é cada
vez maior o montante daqueles com renda inferior a cinco salários
mínimos.
Impossibilitados de arcar com as mensalidades, esses estudantes
apelam para a inadimplência (que atingiu 25% no final
de 2003, segundo a Abmes) ou desistem do curso, agravando
os 37,4% de vagas ociosas do setor, segundo Ryon Braga, especialista
em ensino superior, que afirma já existirem muitos
estabelecimentos endividados no setor.
Para ele, a melhor ilustração da crise é
o fato de 73 instituições de ensino superior
privadas terem conseguido autorização do MEC
para funcionar mas, em três anos, não terem formado
uma só turma pela baixa procura de seu processo seletivo.
"Há excesso de instituições nos
lugares errados."
Mercado
O que deve regular o excedente e a má adaptação
das instituições privadas é o próprio
mercado.
"Com isso há quatro guerras em curso", afirma
Franco, da Abmes. "A guerra de preço, com a queda
de mensalidades para ganhar da concorrência, a guerra
de recursos humanos, com a transferência de professores
de uma instituição para outra, a guerra da mídia,
que ganha quem tem verba para TV e anúncios de vestibular,
e a guerra de qualidade, a única que se ganha de verdade."
Liane Aureliano, uma das fundadoras da Faculdade de Campinas,
concorda com Franco. "As escolas de excelência
atuam num mercado especial, no qual não existe crise
nem muita competição", diz. "A Facamp
remunera bem seus professores e não preenche todas
as suas vagas se não houver alunos bons para elas.
É provável que nossa taxa de lucro seja menor
num mercado que se revelou altamente rentável, mas,
por outro lado, quase não temos inadimplência."
Para o presidente da Abmes, a falência de instituições
e as fusões de tantas outras é um caminho inevitável.
"Aconteceu até com os bancos. Com certeza ocorrerá
no ensino superior em breve. O governo federal foi prudente
ao segurar o crescimento do setor."
Lobo diz que a ampliação de vagas no setor público,
a redução de custos sem comprometer a qualidade,
a ampliação do Fies (Fundo de Financiamento
ao Estudante do Ensino Superior) e a busca de alternativas
para a cobrança de mensalidades fazem parte do cardápio
básico de soluções.
FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo
|