RIO -
De cada dez brasileiros, oito dizem não ter dinheiro
suficiente para chegar ao fim do mês e quatro não
comem a quantidade de alimentos que consideram adequada. As
conclusões fazem parte da Pesquisa de Orçamento
Familiar (POF) 2002-2003, que o IBGE está começa
a divulgar hoje. Além de analisar detalhadamente os
gastos e os rendimentos das famílias brasileiras, a
mais completa edição da POF incluiu um questionário
no qual os brasileiros avaliam suas condições
de vida. O levantamento mostra que 85% dos entrevistados afirmam
que têm dificuldades para chegar ao fim do mês
com os rendimentos de que dispõem: 27,15% têm
muita dificuldade; 23,73% têm dificuldade; e 34,57%
têm alguma dificuldade. A POF considera como rendimentos
não apenas o salários, a renda em dinheiro,
mas também receitas não-monetárias, como
doações e produção para o próprio
consumo.
O aperto financeiro é inversamente proporcional à
renda. Das famílias com renda de até R$ 400
por mês, 51,5% dizem ter muita dificuldade para chegar
ao fim do mês com o rendimento que recebem. Entre os
que ganham mais de R$ 6 mil, a proporção cai
para 6,66%. A pesquisa que o IBGE chama de avaliação
subjetiva das condições de vida investigou também
o consumo de alimentos. Entre os entrevistados, 46,7% declararam
ser insuficiente a quantidade de alimentos consumida por suas
famílias: 13,9% disseram o consumo de comida é
normalmente e 32,8%, às vezes insuficiente.
A pesquisa também mostrou que 73,2% dos brasileiros
nem sempre ou raramente comem o alimento que gostariam. Desse
total, 93% não consomem o que preferem por falta de
renda.
Habitação
Os gastos com habitação consomem a
maior parte do orçamento das famílias brasileiras,
segundo a POF-IBGE. Esse grupo, que inclui aluguéis
e tarifas, representam 35,5% das despesas monetárias
e não-monetárias dos brasileiros. Trinta anos
atrás, a proporção era de 30,41%.
Os gastos com alimentação, por sua vez, caíram:
de 33,91% para 20,75% entre a Endef dos anos 70 e a POF 2002-2003.
As despesas com transportes aumentaram de 11,23% para 18,44%;
com saúde, de 4,22% para 6,49%; e com educação
de 2,28% para 4,08%. Os moradores das áreas urbanas
gastam mais com habitação que os das áreas
rurais: 36,11% contra 28,66%. No interior, o grupo de despesas
que mais pesa é a alimentação: 34,12%
do orçamento dos lares rurais, contra 19,58% nos centros
urbanos.
FLÁVIA OLIVEIRA
LUCIANA RODRIGUES
do jornal O Globo
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