O presidente
do Conselho Nacional de Educação (CNE), Roberto
Claudio Bezerra, teme que a reserva de 50% das vagas das universidades
federais para estudantes de escolas públicas afete
a qualidade do ensino nessas instituições, com
aumento da repetência e evasão. "Pode haver
comprometimento da qualidade", disse ele ao comentar
o projeto de lei que o governo enviou ao Congresso.
Bezerra considerou "um pouco alto" o porcentual
de 50% definido no projeto.
Ele acredita que boa parte dos novos alunos chegará
à universidade com defasagem de conhecimento, após
ter cursado todo o ensino médio na rede pública.
"Isso vai exigir um esforço institucional para
que atinjam um nível que lhes permita avançar
no curso sem retenção ou evasão",
afirmou ele, que já foi reitor da Universidade Federal
do Ceará.
Levantamento realizado entre os formandos de universidades
federais que fizeram o Exame Nacional de Cursos (Provão)
no ano passado, no entanto, mostrou que 4 em cada 10 concluintes
cursaram todo o ensino médio em escola pública.
E conseguiram chegar ao último ano do curso.
Solução híbrida
Sem demonstrar muita simpatia pelo sistema de cotas,
mas tampouco se dizendo contrário à proposta,
Bezerra defende uma saída híbrida. Para ele,
o governo deveria criar vagas nas universidades para receber
o público das cotas. Com isso, avançaria na
expansão do setor público e na adoção
de políticas afirmativas.
A diferença, como registra a proposta do governo,
é que instituir cotas não tem custo financeiro,
ao contrário da abertura de vagas. "A proposta
de cotas deveria vir acompanhada de uma nova matriz de financiamento",
disse Bezerra.
O projeto de lei do governo reserva 50% das vagas para quem
tenha cursado todo o ensino médio na rede pública.
Está prevista uma subcota racial, equivalente à
proporção de pretos, pardos e índios
em cada Estado, segundo o último censo do IBGE.
A proposta mantém em vigor o sistema vestibular e
dá prazo de 240 dias às instituições
para a adoção da medida, após a aprovação
da lei.
Abertura de cursos
O presidente do CNE também demonstrou preocupação
com as novas regras de abertura de cursos de medicina, outra
medida anunciada pelo governo na semana passada. Ao contrário
do projeto de cotas, que ainda passará pelo Congresso,
os novos critérios para autorização de
cursos já estão em vigor por determinação
do Ministério da Educação.
A necessidade social, ou seja, a carência de médicos
em cada região ou cidade, será considerada pelo
governo no momento de conceder licenças para novos
cursos. "Isso pode estimular posturas corporativistas",
disse ele.
Bezerra lembrou que a necessidade social até agora
não era considerada na criação de faculdades.
Tanto o MEC quanto o CNE só se baseavam em critérios
de qualidade. Responsável pela mudança, o ministro
da Educação, Tarso Genro, diz que antes o ministério
se limitava a seguir trâmites burocráticos. Agora,
argumenta ele, passará a exercer um "juízo
de valor".
DEMÉTRIO WEBER
da Agência Estado
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