Fazer
carreira no serviço público voltou a seduzir
a classe média brasileira. Com o aumento do desemprego
e a renda em declínio, a combinação de
bom salário e estabilidade da máquina estatal
virou meca de oportunidades no país. O Ministério
do Planejamento já autorizou a criação
de quase 12 mil vagas este ano para o Poder Executivo. Pelo
menos 4 mil estão com inscrições abertas.
Outras 29 mil esperam o aval do ministério para se
converterem em concurso. Entre as que aguardam as inscrições,
há remunerações que passam de R$ 7 mil,
como a de delegado e perito da Polícia Federal.
Em um país onde apenas 3,02% da população
economicamente ativa recebeu, em 2002, entre 10 e 20 salários
mínimos mensais, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), encarar concursos públicos
virou tática tanto de quem nem entrou no mercado quanto
de quem está descontente.
A administradora de empresas com ênfase em Comércio
Exterior Lisiane Moraes de Azeredo, 26 anos, mal se formou
e já quer deixar a iniciativa privada para trás.
Depois de quatro anos na empresa do pai e em uma indústria
de artigos de informática, a porto-alegrense antes
apegada à idéia de que servidor público
trabalha pouco e ganha bem só pensa em entrar na Receita
Federal. Tudo porque se cansou de trabalhar 12 horas diárias
sete dias da semana sem ver o salário de R$ 1,5 mil
crescer no mesmo ritmo. Agora, quer deixar de contribuir para
a taxa de desemprego de pessoas com Ensino Superior na Região
Metropolitana, que, em 2003, segundo o Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos
(Dieese), era de 5,9% (a média ficou em 21,4%).
" A gente trabalha todos os dias, leva trabalho para
a casa e, no fim, só ganha um tapa nas costas - diz
Lisiane, que se prepara para o concurso da Receita Federal,
cuja demanda é de 1,5 mil auditores e 2 mil técnicos
ainda este ano" .
Remuneração de servidores
A fuga de talentos para a máquina estatal
acompanha o desempenho da economia nas últimas décadas,
diz o cientista político José Matias Pereira.
O professor da Universidade de Brasília sustenta que
o conceito das carreiras públicas entre os brasileiros
de melhor renda e grau de instrução é
o mais alto desde os anos 70.
"O governo começou a remunerar melhor - explica,
lembrando que, na década de 90, segundo dados do governo,
um servidor com nível universitário recebia
cerca de 5% menos do que a média nacional, relação
hoje invertida para aproximadamente 16% mais ao da média
no país".
Para a economista do Dieese Lúcia Garcia, a busca
por vagas no setor público não é sinal
de que a vida do servidor melhorou e sim de que a qualidade
do emprego no setor privado piorou. A demanda no setor público,
conforme ela, é resultado do enxugamento vivido na
década de 90. Garantido pela Constituição,
o concurso é hoje funil para o ingresso no governo.
"As pessoas estão com uma cabeça antiga,
governo não é mais cabide de emprego. O setor
público vai ser cada vez mais enxuto e com gente muito
qualificada - prevê Sonia Rocha, economista e coordenadora
de projetos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio".
As informações são
do Zero Hora.
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