Num jantar
com a bancada do PL na noite de quarta-feira, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ironizou a competência
do ex-ministro Anderson Adauto e teve um diálogo áspero
com o vice-presidente José Alencar, que reclamara da
política de juros. Depois de contar que leu a reportagem
do GLOBO sobre a proposta do relator da PEC paralela da Previdência,
o petista José Pimentel (CE), de incluir a aposentadoria
de donas de casa de baixa renda, Lula reagiu irritado e disse
que a idéia era absurda. Também disse que a
greve dos agentes da Polícia Federal não era
greve, mas férias, pois eles ficaram mais de um mês
parados sem corte nos salários.
Num discurso de 50 minutos, respondeu a Alencar, que criou
constrangimento ao dizer, na frente dos parlamentares do PL,
que o governo não podia atender aos apelos do capital
financeiro internacional, mas sim ao apelo da sociedade brasileira.
Lula esperou o jantar terminar para dar a resposta.
" Isso (baixar juros) não pode acontecer do dia
para a noite".
O jantar terminou tarde. Foram servidos feijão, arroz
carreteiro, frango, lingüiça e salada. Para beber,
uísque e vinho.
CRÍTICA A ANDERSON ADAUTO (ex-ministro dos Transportes):
“Diziam que o Anderson era cortesia 10 e ministro zero.
Ele atendia bem demais, mas não resolvia nada.”
PRIVILEGIAR A BASE: “Preciso que vocês me digam
qual o ministro que não atende para eu chamar atenção.
Quando eu pergunto para um deputado isso, ele responde: ‘Deixa
prá lá’. Vocês têm que me
falar. Quando um ministro assume um ministério pensa
que é para tratar todo mundo igual, sem avaliar a relação
pessoal e sem fazer uma diferenciação.”
CÂMARA VERSUS SENADO: “Existe muita divergência
e muita briga entre senadores e deputados. Um fala mal do
outro. É preciso resolver esse problema. Resolver isso
com muita paciência e com muita conversa.”
INFRA-ESTRUTURA e OBRAS INACABADAS: “A ferrovia Norte-Sul
não avançou praticamente nada depois de Sarney.
Isso mostra um pensamento eleitoral. Porque os políticos
pensam assim: ‘Por que vou terminar uma obra que não
é minha?’ Achamos que essa irresponsabilidade
administrativa fez com que várias obras ficassem inacabadas.
Tem obra inacabada com 95% de execução. É
uma irresponsabilidade total!”
EMPRESÁRIOS CHORÕES (sobre um programa de energia
alternativa, há 60 dias): “Pensávamos
que não ia dar certo porque os empresários estavam
descrentes. Esse pessoal é muito chorão! Pois
já temos seis mil megawatts de energia alternativa,
R$ 8,5 bilhões comprometidos e 100 mil empregos que
serão gerados. O importante é ter bons projetos.”
REFORMA DA PREVIDÊNCIA: “Temos a consciência
que se não fizéssemos, não teríamos
condições no futuro de pagar a miséria
que pagamos hoje. Tem trabalhador que se aposenta com 44 anos.
Um intelectual só atinge o ápice depois de 50
anos. Temos aberrações de categorias que se
aposentam com 45 anos e vivem até os 80.”
CONTRA APOSENTADORIA PARA DONAS DE CASA: “Li no jornal
algo que considero um absurdo: aposentadoria para dona de
casa. Aposentadoria é para quem paga previdência.
Aposentadoria é só para quem contribui para
um fundo. Temos que ter a coragem de construir um país
para nossos netos e bisnetos. Não há sistema
que resista a isso, nem no Brasil, nem em Cuba, nem na Rússia
e nem nos EUA. Um pai de família sabe que não
pode fazer dívida maior do que seu salário.”
GREVE NÃO É FÉRIAS (falando sobre a
greve da Polícia Federal): “Tem muito sindicalista
que faz greve pensando em eleição. Nós
criamos uma mesa de negociação com sete ministros
discutindo salários com os servidores. Como um cidadão
vai pedir 85% de reajuste? É impensável! Uma
vez fiz isso quando estava no sindicado. Pedi 83% de reajuste
e disse: ‘É isso ou nada’ . Fiquei com
nada. Quando fazíamos greve, nunca ficávamos
brigando por dias parados. No setor público, quem entra
em greve fica 30, 40 dias sem trabalhar e quer receber salário.
Isso não é greve, é férias! Se
greve fosse remunerada, a que fizemos em 80 duraria até
hoje. Temos que ter responsabilidade! Esse é um governo
que tem oito ministros sindicalistas e um presidente. É
uma república de sindicalistas. E ainda assim, é
difícil de negociar.”
EMPREGOS: “No primeiro trimestre foram criados 347
mil empregos. É pouco, mas é o maior índice
de emprego formal nos últimos 12 anos.”
REFORMA AGRÁRIA: “Você pode aumentar
1 milhão de assentados que não resolve. É
preciso fazer uma política para conter quem está
no campo.”
GERSOM CAMAROTTI
CATIA SEABRA
do Jornal O Globo
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