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saúde
21/06/2004
Médicos lançam campanha para combater forma grave de infecção

A septicemia é uma forma grave de infecção que cresce em todo o mundo e já é a décima causa de morte. Entre os pacientes internados nas UTIs é a maior responsável pela mortalidade.

A infecção leva à inflamação de vários órgãos, o que provoca a morte do paciente se não houver uma intervenção rápida.

A preocupação é com o aumento dos casos da doença, que pode chegar a 140% nos próximos dez anos. De acordo com especialistas, um terço dos pacientes que vai para a UTI já chega com septicemia ou vai adquiri-la lá dentro. No Brasil, estima-se que 70 mil pessoas são internadas com septicemia por ano.

Um conjunto de práticas elaborado por três das mais importantes sociedades de medicina intensiva do mundo está na base da campanha "Sobrevivendo à Sepse". No final de semana passado, no 11º Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva, realizado em Curitiba (PR), o consenso foi lançado para toda a América Latina.

"As novas práticas, chamadas de "pacote de tratamento", consistem num conjunto de terapias que associa medicação a um suporte agressivo iniciado rapidamente", diz Álvaro Rea Neto, da Universidade Federal do Paraná e que presidiu o congresso.

O crescimento da doença, segundo o professor, se deve ao envelhecimento da população e aos tratamentos mais agressivos e invasivos que pacientes graves vêm recebendo. "Fragilizados e com terapêuticas fortes, eles ficam mais sujeitos a infecções."

No Brasil, a vítima mais conhecida da sepse foi Tancredo Neves (1910-1985). "Hoje a sepse já se apresenta como o grande desafio deste século", diz Eliézer Silva, responsável pelo Centro de Terapia Intensiva do Hospital Albert Einstein e presidente do Instituto Latino Americano de Sepse e da Associação Brasileira de Choque.

Silva, que defende mais informação para o leigo e mesmo para os médicos -de forma que possam agir rapidamente-, diz que a origem da sepse está sempre numa infecção. "A prevenção da sepse se inicia evitando as infecções, quaisquer que sejam", diz.

Abaixo, entrevista que Silva concedeu depois do congresso.


Folha - Como se pode diminuir o número de pacientes com sepse?
Eliézer Silva - Diminuindo-se o número de infecções, que começam com as infecções hospitalares, evitadas com a simples prática de lavar as mãos, até o uso adequado de antibióticos, evitando-se bactérias mais resistentes. Nos países subdesenvolvidos, as infecções adquiridas na comunidade são mais comuns, por isso devem ser vistas e tratadas como uma questão de saúde pública.

Folha - A população ou a família tem o que fazer para reduzir os casos de sepse?
Silva - É isso o que defendemos no congresso de Curitiba, que se ensinem as pessoas a perceberem os sinais da sepse. Por exemplo, se alguém, especialmente idoso, estiver urinando menos, com confusão mental ou pressão baixa, é possível que seja o início de uma sepse. Deve ser levado a um hospital rapidamente e o médico deve ser alertado, pois muitas vezes ele também minimiza os sintomas. Agindo rapidamente, com auxílio de diálise e respiradouro -quando for o caso- e o emprego da proteína C ativada como medicação, as chances de sobrevivência do paciente são muito grandes.


Folha - Para muita gente, as UTIs ainda são sinônimos de morte.
Silva - Ao contrário, para a maioria dos pacientes, é sinônimo de vida. Além de novos medicamentos e procedimentos, médicos e muitos hospitais defendem hoje a humanização das UTIs. Esse conceito passa por melhorias no ambiente, como diminuição de ruídos -de equipamentos e mesmo dos profissionais- até janelas amplas que permitam ao paciente ter noções claras do tempo, se é dia ou é noite, por exemplo. Os familiares também devem ter acesso à UTI mais de uma vez por dia, pois isso ajuda na recuperação. O paciente também precisa saber o que está acontecendo com ele, mesmo que tenha períodos de confusão mental. Em muitos lugares, a presença de um psicólogo tem contribuído muito para uma boa evolução do paciente.


AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo

   
 
 
 

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