A septicemia
é uma forma grave de infecção que cresce
em todo o mundo e já é a décima causa
de morte. Entre os pacientes internados nas UTIs é
a maior responsável pela mortalidade.
A infecção leva à inflamação
de vários órgãos, o que provoca a morte
do paciente se não houver uma intervenção
rápida.
A preocupação é com o aumento dos casos
da doença, que pode chegar a 140% nos próximos
dez anos. De acordo com especialistas, um terço dos
pacientes que vai para a UTI já chega com septicemia
ou vai adquiri-la lá dentro. No Brasil, estima-se que
70 mil pessoas são internadas com septicemia por ano.
Um conjunto de práticas elaborado por três das
mais importantes sociedades de medicina intensiva do mundo
está na base da campanha "Sobrevivendo à
Sepse". No final de semana passado, no 11º Congresso
Brasileiro de Medicina Intensiva, realizado em Curitiba (PR),
o consenso foi lançado para toda a América Latina.
"As novas práticas, chamadas de "pacote
de tratamento", consistem num conjunto de terapias que
associa medicação a um suporte agressivo iniciado
rapidamente", diz Álvaro Rea Neto, da Universidade
Federal do Paraná e que presidiu o congresso.
O crescimento da doença, segundo o professor, se deve
ao envelhecimento da população e aos tratamentos
mais agressivos e invasivos que pacientes graves vêm
recebendo. "Fragilizados e com terapêuticas fortes,
eles ficam mais sujeitos a infecções."
No Brasil, a vítima mais conhecida da sepse foi Tancredo
Neves (1910-1985). "Hoje a sepse já se apresenta
como o grande desafio deste século", diz Eliézer
Silva, responsável pelo Centro de Terapia Intensiva
do Hospital Albert Einstein e presidente do Instituto Latino
Americano de Sepse e da Associação Brasileira
de Choque.
Silva, que defende mais informação para o leigo
e mesmo para os médicos -de forma que possam agir rapidamente-,
diz que a origem da sepse está sempre numa infecção.
"A prevenção da sepse se inicia evitando
as infecções, quaisquer que sejam", diz.
Abaixo, entrevista que Silva concedeu depois do congresso.
Folha - Como se pode diminuir o número de pacientes
com sepse?
Eliézer Silva - Diminuindo-se o número
de infecções, que começam com as infecções
hospitalares, evitadas com a simples prática de lavar
as mãos, até o uso adequado de antibióticos,
evitando-se bactérias mais resistentes. Nos países
subdesenvolvidos, as infecções adquiridas na
comunidade são mais comuns, por isso devem ser vistas
e tratadas como uma questão de saúde pública.
Folha - A população ou a família
tem o que fazer para reduzir os casos de sepse?
Silva - É isso o que defendemos no congresso
de Curitiba, que se ensinem as pessoas a perceberem os sinais
da sepse. Por exemplo, se alguém, especialmente idoso,
estiver urinando menos, com confusão mental ou pressão
baixa, é possível que seja o início de
uma sepse. Deve ser levado a um hospital rapidamente e o médico
deve ser alertado, pois muitas vezes ele também minimiza
os sintomas. Agindo rapidamente, com auxílio de diálise
e respiradouro -quando for o caso- e o emprego da proteína
C ativada como medicação, as chances de sobrevivência
do paciente são muito grandes.
Folha - Para muita gente, as UTIs ainda são
sinônimos de morte.
Silva - Ao contrário, para a maioria dos pacientes,
é sinônimo de vida. Além de novos medicamentos
e procedimentos, médicos e muitos hospitais defendem
hoje a humanização das UTIs. Esse conceito passa
por melhorias no ambiente, como diminuição de
ruídos -de equipamentos e mesmo dos profissionais-
até janelas amplas que permitam ao paciente ter noções
claras do tempo, se é dia ou é noite, por exemplo.
Os familiares também devem ter acesso à UTI
mais de uma vez por dia, pois isso ajuda na recuperação.
O paciente também precisa saber o que está acontecendo
com ele, mesmo que tenha períodos de confusão
mental. Em muitos lugares, a presença de um psicólogo
tem contribuído muito para uma boa evolução
do paciente.
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo |