O presidente
da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência),
Ennio Candotti, 62, defende um maior controle do Estado sobre
as universidades privadas. Para ele, até a abertura
de vagas deveria ser mais controlada.
Candotti quer que a idéia conste do projeto de reforma
universitária proposto pelo Ministério da Educação.
Ele defende também que as contrapartidas para se abrir
uma universidade sejam mais rígidas. Ele, porém,
afirma que há uma "razoável convergência"
entre as idéias da entidade e o anteprojeto do MEC.
A SBPC ainda discute alguns itens da proposta do ministério.
Ontem, em São Paulo, a entidade reuniu representantes
de sociedades científicas para debater o assunto. No
começo do mês que vem, será a vez de os
diretores fazerem a discussão. O MEC recebe até
o dia 30 de março sugestões para o anteprojeto.
Folha - Quais são as maiores divergências
da SBPC em relação anteprojeto do MEC?
Ennio Candotti - Um consenso é a necessidade da existência
de um marco regulatório para o ensino superior privado.
Mas acho que o controle deveria ser maior. A educação
é um serviço público e deveria funcionar
como qualquer outra concessão. Portanto o Estado tem
a responsabilidade de supervisionar esse exercício;
80% das vagas nas privadas estão em humanidades. Não
se podem abrir tantas vagas em direito, em administração,
sem necessidade. O país só irá se desenvolver
com mais engenheiros, mais biólogos.
Folha - De que forma o Estado pode controlar a abertura
das vagas?
Candotti - Há várias maneiras. Por exemplo,
não deixar abrir vagas em cursos que estejam saturados.
Ou dar bolsas de estudo [para quem escolher as carreiras em
que haja necessidade].
Folha - O MEC, no ano passado, suspendeu por sete
meses o recebimento de pedidos de credenciamento de novas
instituições e de autorizações
de novos cursos.
Candotti - Mas entendo que sejam necessárias regras
mais rígidas e claras para isso.
Folha - Quais são as outras divergências?
Candotti - No ensino privado, para ser universidade, deveria
haver pelo menos um doutorado para cada grande área
do saber [o anteprojeto fala em apenas um curso de doutorado;
as instituições que são classificadas
como universidades têm mais liberdade]. É preciso
mais pesquisa. Também poderia haver mudanças
no financiamento [no sistema público]. Pode ser que
uma universidade federal até receba verbas dos Estados
e municípios. Mas, no geral, há uma razoável
convergência para que tenhamos um entendimento.
Folha - E em relação às cotas
[o anteprojeto exige que 50% das vagas nas universidades federais
sejam para alunos de escola pública]?
Candotti - Estamos de acordo com isso. O problema é
evidente e é preciso ser corrigido.
FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S. Paulo
|