Um estudo
realizado pelos institutos Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado
no fim do ano passado revelou que, em 2002, existiam no país
275,8 mil fundações privadas e associações
sem fins lucrativos. Um crescimento de 157% em relação
à última pesquisa realizada em 1996. O súbito
crescimento dessas instituições levou o Banco
Mundial (Bird) a organizar o encontro Diálogo de Fundações,
Redes Sociais e o Governo Brasileiro, entre os dias 21 e 23
deste mês, em Brasília, para que seus interesses
comuns sejam discutidos pela primeira vez no país.
O evento "Diálogo de Fundações"
é o resultado de uma parceria entre o Banco Mundial
e o European Foundation Centre, iniciada no ano passado na
Tailândia.
O encontro no Brasil (uma parceria entre a Fundação
Banco do Brasil, o Grupo de Institutos, Fundações
e Empresas (Gife), a Fundação Avina, a Articulação
no Semi-árido Brasileiro e o Grupo de Trabalho Amazônico),
promoverá o debate entre fundações nacionais
e internacionais, o governo federal e as principais redes
sociais que operam no país, para que as ações
empreendidas por cada instituição sejam de conhecimento
de todas.
“O objetivo é criar um espaço democrático
e participativo para a troca de conhecimento e experiências
entre as redes sociais, as fundações, o governo
e o Banco Mundial, visando ao fortalecimento da agenda de
desenvolvimento brasileira”, explica Zezé Weiss,
especialista em desenvolvimento social e sociedade civil do
Bird. Segundo ela, as discussões do Diálogo
estão centradas em quatro áreas temáticas
de interesse de todos os parceiros: “inclusão
social”, “juventude”, “Amazônia”
e “Nordeste”.
Otimizar recursos
Participarão do evento cerca de 25 fundações
internacionais, além de 23 instituições
que participam do Gife como as fundações Abrinq,
Roberto Marinho, Vale do Rio Doce e Kellogg, e os institutos
Ayrton Senna e Embraer. Diante da importância estratégica
do encontro, integrantes do primeiro escalão do governo
federal confirmaram presença, como Luiz Dulci, secretário
geral da presidência; a ministra Marina Silva, do Meio
Ambiente; Jaques Wagner, secretário especial do Conselho
de Desenvolvimento Econômico e Social; e Luiz Gushiken,
secretário de Comunicação de Governo
e Gestão Estratégica.
“Iniciativas como essa merecem todo o apoio porque
estão inseridas em um projeto maior que é a
superação da pobreza”, disse Luiz Gushiken
ao Cidadania-e. “Os problemas da realidade brasileira
somente serão combatidos de forma eficaz a partir do
fortalecimento e da integração, em rede, dos
diversos atores comprometidos com o desenvolvimento social”,
conclui. Para Jaques Wagner, o evento pode evitar a superposição
de propostas e investimentos, otimizar os recursos em projetos
prioritários e estimular maior sinergia em relação
à criação de alternativas no combate
às desigualdades sociais. “A troca de idéias
e de experiências bem-sucedidas, desenvolvidas no país
e no exterior, refletirá a importância da participação
da sociedade nas políticas públicas. Ao mesmo
tempo, a convivência dos organismos estrangeiros com
a realidade brasileira proporciona maior visibilidade sobre
a atuação do governo brasileiro na área
social”, opina.
Fundação Banco do Brasil vai apresentar proposta
da Rede de Tecnologias Sociais
Convidada pelo próprio Bird para ajudar na organização
do encontro, a Fundação Banco do Brasil discute
a possibilidade de debater a ampliação da cooperação
com fundações estrangeiras desde o ano passado.
O presidente Jacques Pena diz que “o papel da Fundação
é apresentar projetos e tecnologias às organizações
estrangeiras no sentido de viabilizar a ampliação
dessas ações ou o surgimento de novas idéias
apoiadas pelas fundações internacionais”.
Entre as propostas a serem apresentadas, Pena destaca tecnologias
sociais como as mandalas, as barraginhas e as cadeias produtivas
do caju e da apicultura, entre outras, além da Rede
de Tecnologias Sociais.
“A Rede é uma possibilidade de ampliação
de parcerias. Permite que instituições brasileiras
que a integram estabeleçam parcerias com as entidades
que estão vindo para o Diálogo. As políticas
estruturais do Fome Zero, os programas de geração
de trabalho e renda, de educação e os voltados
para a juventude poderão ter aderência com os
estrangeiros e desenvolver boas políticas de participação”,
avalia Pena.
Para Zezé Weiss, do Bird, o governo brasileiro tem
feito um grande esforço para estimular as ações
que levam ao desenvolvimento do Brasil. A presença
massiva de técnicos da área social do governo
nesse evento demonstra o compromisso e o interesse em desenvolver
o país. “O Brasil possui uma gama imensa de experiências
bem-sucedidas de desenvolvimento, mas essas ações
estão fragmentadas e coordená-las é um
grande desafio. O governo federal não tem um mapa dessas
ações; a sociedade civil também não”,
pondera Zezé. “A Fundação Banco
do Brasil realizou um importante esforço nesse sentido,
por meio do Banco de Tecnologias Sociais. Identificar essas
experiências e multiplicá-las é o desafio
principal para o desenvolvimento no Brasil”, aponta.
Fernando Rossetti, diretor do Gife, lembra que a resolução
dos problemas sociais brasileiros passa, necessariamente,
pela articulação entre os diferentes atores
desta área. “É freqüente ter um projeto
focado em determinada população que percebe
que não conseguirá resolver a questão
sem se articular com outros setores”, observa. “Esta
articulação, o trabalho com parcerias e alianças,
é também bastante complexo, pois envolve instituições
e pessoas com repertórios e culturas muito diversas.
Daí a necessidade de promover eventos como este Diálogo”,
ressalta.
AMANDA VIEIRA
IVAN KASAHARA
do site da Fundação Banco so Brasil
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