Projeto
São Paulo em Paz levantou dados de 3 áreas na
primeira fase de plano para melhorar qualidade de vida
Um em cada cinco moradores desempregados; áreas dominadas
pelo tráfico; ausência do poder público.
Entre os jovens, muitas mortes, baixa escolaridade, gravidez
precoce. Esse é o quadro que três distritos da
cidade - Grajaú, na zona sul, Lajeado, na leste, e
Brasilândia, na norte - querem mudar com o Projeto São
Paulo em Paz, parceria da Prefeitura e do Instituto Sou da
Paz.
O exemplo é o Jardim Ângela, bairro da zona
sul que já foi considerado um dos mais violentos do
mundo e conseguiu reduzir índices de criminalidade.
De quebra, ainda pretendem romper estigmas. Como o que por
décadas atormentou o vigia aposentado José Rodrigues,
de 60 anos, cansado de perder empregos por viver na Brasilândia.
"Falam que o bairro é muito perigoso, põem
fama e acabam com quem tá aqui", reclama.
A primeira fase do São Paulo em Paz será apresentada
hoje aos subprefeitos de Guaianases, Capela do Socorro e Freguesia
do Ó/Brasilândia. É um grande diagnóstico
sobre os distritos, escolhidos por critérios de vulnerabilidade
social e juvenil, taxas de homicídio, potencial de
articulação comunitária. Feito por técnicos
do Sou da Paz, traz de mapas de crimes a dados de renda, escolaridade,
história. Os mesmos resultados serão mostrados
nas próximas semanas às equipes das subprefeituras,
líderes comunitários e representantes de entidades,
como Consegs, conselhos tutelares, polícias. Depois,
vem a fase da discussão de prioridades para fazer o
plano de melhorias e, a seguir, sua execução.
"No fim do ano, já vai dar para sentir diferenças",
promete o secretário especial de Participação
e Parceria, José Police Neto. "Mais do que reduzir
índices de criminalidade, a idéia é promover
a segurança", completa a coordenadora do São
Paulo em Paz, Carolina de Mattos Ricardo, lembrando que isso
só ocorrerá se a sociedade abraçar o
projeto.
Abandono
Nos distritos, alguns problemas são comuns.
Como falta de área de lazer e de iluminação,
abandono dos jovens. Além da violência cotidiana.
O estudo do Grajaú indica, por exemplo, que bandidos
controlam entrada e saída de pessoas em vielas dos
Jardins Itajaí e Noronha e na Favela ZR (Zona de Risco)
e há toque de recolher no Jardim Reimberg. No posto
de saúde do Jardim Eliana, há apenas três
médicos para atender 77 mil pessoas por mês.
E vandalismo e violência renderam à Escola Estadual
Jardim Varginha 3 o apelido pouco pedagógico de Carandiru.
Para piorar, o Grajaú - distrito mais populoso da cidade
- fica em área de mananciais - e reivindicações
por melhorias esbarram na lei.
Na Brasilândia, onde boa parte das vilas nasceu nos
anos 70 a partir de loteamentos clandestinos em áreas
públicas, moradores mais antigos lembram de quando
o bairro era coberto por matas e não faltavam campos
de futebol. "Hoje não tem espaço vazio
nem para pôr o pé. E sobrou só um campinho
bem pequeno no Parque Tietê", diz Cornélio
Barbosa, de 50 anos, no bairro desde 1983.
Sem cuidados nem segurança, áreas livres são
ocupadas por delinqüentes. "A melhor coisa do mundo
foi construírem essa escola aí. O pessoal só
vinha fumar droga, jogar lixo", diz o aposentado Aloísio
de Castro, apontando para obras num antigo terreno baldio
do Jardim Guarani. Na casa vizinha, Adriana Araújo
Santos reclama de falta de lugar de lazer para os três
filhos. Ela mora bem na frente da Emei Alex Freua Netto, trancada
nos fins de semana. "Meu filho pede: 'Pula o muro para
eu brincar'. Mas não tem sentido ficar pulando muro."
Para Police Neto, propostas simples mas eficazes na redução
da violência, como abrir escolas para a comunidade aos
sábados e domingos, serão levadas a autoridades
municipais e estaduais com outros pedidos, como podas, rondas
policiais, iluminação. "O importante é
devolver o espaço público para a comunidade
e potencializar programas que já existem." Entre
eles, ganham destaque os que atuam na prevenção
da violência doméstica, como a Casa Brasilândia,
na zona norte, e o Centro de Defesa da Mulher Viviane dos
Santos, no Lajeado. Finalmente, é preciso reverter
um círculo vicioso: regiões com altos índices
de violência afugentam investimentos. E comerciantes
e empresários que poderiam gerar empregos no próprio
bairro procuram regiões mais seguras.
Luciana Garbin
As informações são
do O Estado de S.Paulo.
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