BRASÍLIA
- Diante de poucas certezas e muitas dúvidas, os diretores
do Banco Central alertam que ainda é cedo para encerrar
o ciclo de aperto monetário iniciado em setembro com
a alta da taxa de juros. Ao contrário, a ata da última
reunião do Comitê de Política Monetária
(Copom) divulgada ontem sugere novas altas e a manutenção
de juros elevados por período mais longo, para assegurar
que a inflação futura esteja em linha com a
meta desejada pelo governo.
O documento, considerado pessimista por analistas de mercado,
destaca que a alta dos preços no atacado continua a
ser uma fonte de pressão para a inflação
no varejo, que a queda na produção industrial
- que confirmaria uma acomodação no ritmo de
crescimento da economia - ainda não pode ser dada como
certa e também que a trajetória do preço
do petróleo no mercado internacional permanece indefinida,
apesar do recuo verificado recentemente.
Além disso, o aumento do nível dos investimentos
para elevar a capacidade produtiva da economia, que há
meses é destacado pelos diretores como foco de preocupação,
ainda provoca dúvidas. A ata alerta que, apesar do
aumento dos investimentos, os indicadores de utilização
da capacidade instalada continuam elevados. Por isso, os diretores
do BC dizem que a taxa de juros precisa ser calibrada de acordo
com o ritmo de expansão adicional da demanda. Isso
se torna ainda mais importante num momento em que o consumo
das famílias cresce em ritmo igual ou superior ao da
produção nacional medida pelo Produto Interno
Bruto (PIB).
Outro ponto determinante para o Copom é que a melhora
nas expectativas dos analistas, empresários e investidores
em relação à inflação de
2005 nas últimas semanas foi "considerada modesta"
diante de indicadores positivos no curto prazo que contribuem
para diminuir as pressões sobre os preços. As
pesquisas semanais do BC projetam um IPCA de 5,78% em 2005.
Há cerca de um mês, a expectativa era de 5,9%.
Nos dois casos, o valor é superior aos 5,1% que o BC
pretende alcançar.
Com isso, os diretores afirmam que "o processo de ajuste
gradual dos juros básicos deveria prosseguir no ritmo
originalmente previsto" e defendem "a combinação
de etapas adicionais desse processo de ajuste com um período
suficientemente longo de manutenção dos juros
após a sua conclusão" para reduzir a chance
de a inflação futura se desviar da meta do BC.
Combustíveis
Com relação ao comportamento internacional
do petróleo, apesar das quedas recentes o preço
é considerado elevado para o Copom e a trajetória
futura ainda é uma incógnita. Os reajustes deste
ano teriam deixado os combustíveis em linha com o preço
atual do petróleo e, por isso, o Copom não projeta
novos aumentos em 2005.
Ao contrário, os diretores do BC acreditam que, se
o cenário internacional permanecer favorável,
será possível reduzir os preços cobrados
dos consumidores no Brasil. No entanto, mesmo que isso ocorra,
a decisão de diminuir o preço da gasolina não
mudará a política monetária porque o
BC pretende aproveitar essa oportunidade para reduzir ainda
mais a inflação em 2005.
O recado do Copom
IPCA: A inflação de novembro foi puxada
pela alta dos combustíveis. Só não foi
maior porque o preço dos alimentos estão em
queda há três meses.
ATACADO: Os preços no atacado ainda pressionam a inflação
no varejo. A intensidade do repasse dependerá do nível
de consumo e das expectativas do mercado.
CRESCIMENTO: Está cada vez mais sustentado na demanda
doméstica. O consumo das famílias cresce mais
que o PIB.
GARGALO: Apesar dos investimentos, os indicadores de utilização
da capacidade instalada continuam elevados. Por isso, a taxa
de juros precisa ser calibrada de acordo com o ritmo da demanda.
COMBUSTÍVEIS: A gasolina não terá aumento
em 2005. Se o cenário continuar favorável, o
preço pode até cair.
JUROS: A queda na inflação não foi suficiente
para alinhar os valores projetados pelo mercado com a meta
do BC. A política de aumento dos juros será
mantida por um período maior.
SHEILA D AMORIM
do o Estado de S. Paulo |