.
              
 
HOME | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
 

dividindo experiências
26/01/2005
Apoio de voluntários para pais de dependentes químicos é fundamental

Pessoas de diversas profissões e idades, bons ouvintes e muita experiência para trocar. São algumas características de voluntários de grupo de apoio a familiares de dependentes químicos, que promovem encontros semanais onde debatem seus problemas e buscam saídas para as dificuldades no relacionamento familiar.

Para Kléver Francisco Campos, gerente administrativo, os voluntários do Grupo de Apoio a Pais (GAP), da entidade Esquadrão Vida, são fundamentais para a orientação das famílias, já que eles adoecem junto com o dependente tornando-se co-dependentes. "O Esquadrão Vida exige a participação da família nos grupos de apoio. Não precisa freqüentar o GAP, pode ser em outros grupos desde que tragam algum comprovante. Isso é fundamental para a validade do tratamento".

O Esquadrão Vida é uma entidade sem fins lucrativos, voltada à recuperação e prevenção da dependência química. Há quatro unidades, distribuídas em Sorocaba, Porto Feliz, Boituva e Araçoiaba da Serra. O GAP é um dos serviços oferecidos pelo Esquadrão com, aproximadamente, seis voluntários para atender uma demanda de 15 a 18 famílias. As reuniões acontecem às terças-feiras com intermédio de psicólogos para orientar o debate.

Antonio Reis Prado, projetista aposentado, teve seu filho envolvido com drogas há quatro anos. Procurou ajuda no GAP, porque não sabia como agir. "Ele não chegou a ser internado, mas ficamos numa situação que eu e minha esposa não sabíamos o que fazer e decidimos ir para o GAP. Após o tratamento dele, a própria vivência como co-dependente nos reforçou na decisão de sermos voluntários", conta Antonio.

De acordo com Antonio, a primeira coisa que um voluntário de apoio deve fazer é escutar muito os problemas dos familiares e explicar como agir em situações difíceis. "É fundamental levar uma palavra de amor para levantar a auto-estima da pessoa, que está isolada e envergonhada por toda a situação familiar. Ouvimos histórias de todos os tipos nos encontros", conta Antonio.

Os voluntários comentam que a qualidade do tratamento é guiada pelo dependente químico, em que força de vontade é fundamental no processo de abstinência da droga. A família tem um papel importante no acompanhamento do tratamento do doente ao observar seus atos e, principalmente, compreendendo suas carências. Os familiares são co-dependentes já que ficam totalmente concentrados no dependente, deixando de lado sua própria vida e trabalho.

"Não existia uma disciplina em casa e aprendi muitas coisas no Esquadrão, como observar se meu filho teve uma recaída e não cair em sua manipulação, quando pedia dinheiro para um lanche, porque sabia muito bem com que gastaria. Além disso, nós, co-dependentes, somos responsáveis por muitos dos problemas que o afetam. Assim, comecei a passar responsabilidades e deveres para meu filho e vi que todos têm uma chance", diz Antonio.

Já a voluntária Luci Salun Sanches, funcionária pública aposentada e mãe de dependente químico, também trabalha em grupos de apoio há mais de 10 anos. Passou por outras entidades e desde 2000 está no Esquadrão Vida.

"O grupo de apoio é como uma auto-ajuda, pois os familiares tendem a se isolar quando têm esse tipo de problema. No começo da dependência do meu filho, tinha vergonha de vizinhos, familiares e colegas de trabalho. Evitava ir a certos lugares para não ter que levá-lo com medo dele dar vexame. No entanto, a saída mais saudável é falar mesmo do seu problema, desabafar", afirma Luci.

No início Luci não sabia como agir, que atitudes tomar nem como impor limites. "As reuniões com a família e o dependente são separadas, pois eles não utilizam a mesma linguagem. Cada dependente está num grau, pois existem aqueles que precisam ser internados e outros que conseguem se recuperar em casa. Geralmente, quem passou por essa experiência dá algumas dicas", conta Lucii que comenta também que essas orientações ajudam no tratamento.

Há cerca de três meses, o filho de Luci está internado no Esquadrão Vida. "Não deixo por nada meu voluntariado. Com ele, aprendi a viver minha vida mesmo e estou de pé graças à ajuda de meus colegas do GAP. Só quem teve esse tipo de problema sabe o que é", ressalta.

Márcia Lessa Braga, vereadora e empresária na cidade Cambuí, interior de Minas Gerais, começou por acaso com o trabalho voluntario há mais de 12 anos. Passou por várias entidades, mas nos últimos quatro anos se dedica a um grupo de ajuda de dependentes químicos, o Núcleo Espírita Kardecista Amor e Perseverança, que desenvolve trabalhos assistenciais como doação de alimentos para população de baixa renda.

"Há um roteiro de 12 passos para seguir nos encontros de duas horas semanais. É difícil dar conselhos para os pais, porque muitos não aceitam que o filho ou marido é dependente. Assumir a doença é fundamental para o desenvolvimento do tratamento", relata Márcia. A vereadora falou que há pessoas dependentes de outros tipos de drogas como calmantes. Por exemplo, uma mulher que freqüentou poucas vezes o grupo cometeu suicídio há pouco tempo, pois misturou bebida alcoólica com calmantes.

O voluntariado trouxe força para Márcia no seu dia-a-dia, já que valoriza cada vez mais o que tem e ganhou um discernimento das causas de seus problemas. Além de dependentes químicos, a vereadora atende pessoas da periferia de Cambuí. "Minha experiência com voluntariado foi boa e pretendo continuar nessa área", afirma Márcia.

O metalúrgico aposentado, Antonio Tarifa Martins, possui 11 anos de voluntariado e trabalho com crianças de quatro a 16 anos no Núcleo de Atendimento Fraterno Casa do Caminho, no Jardim Ipiranga, em Sorocaba (SP).Como os jovens e crianças estavam se envolvendo com drogas, Antonio queria conhecer melhor o mundo do dependente químico. Assim, decidiu se tornar voluntário no GAP do Esquadrão Vida e já está dois anos.

"O mais importante é tratar a co-dependência na família, já que todos os membros param suas atividades normais para voltar-se ao dependente químico. Ele fica sendo o objeto central da casa e, muitas vezes, os outros irmãos passam a fazer coisas erradas para chamar atenção", fala o metalúrgico aposentado.

No começo, Antonio achava que iria resolver muitas coisas, mas acabou aprendendo mais que os familiares. "É bem aquela frase de Sócrates: 'Só sei que nada sei'. A gente derruba muitos conceitos conservadores. Geralmente, cerca de 60% dos casos mostram que houve uma desestrutura familiar antes de estourar a dependência química. Ou seja, as pessoas vivenciavam uma situação crítica e já eram doentes, pré-dispostas ao vício da droga", fala Antonio.

Após o trabalho voluntário no grupo de apoio, Antonio soube discutir melhor a dependência química entre os jovens em outra entidade social, na periferia de Sorocaba. "O trabalho voluntário mudou minha maneira de entender a vida. Hoje, faço trabalho voluntário todas as noites de terça-feira no GAP. Aos sábados, atendo três grupos de 12 jovens e dou aulas de computador, arte e cultura e discuto vários temas relacionados à saúde. Já nos domingos, faço atividades com crianças de oito a 12 anos para despertar assuntos do cotidiano delas, como drogas e violência", conta Antonio.

Voluntariado trouxe até casamento
O vendedor Paulo Roberto Soares começou a freqüentar o GAP para ajudar no tratamento de seu ex-enteado, que estava internado no Esquadrão Vida. Depois de seis meses de grupo de apoio, passou para o outro lado. Ficou como ouvinte dos familiares, já que foi convocado pela equipe da instituição a se tornar mais um voluntário. Hoje, Paulo é coordenador dos voluntários do GAP e seu ex-enteado está trabalhando e dispensado do tratamento.

"Muitas vezes a pessoa não admite que é dependente e os pais nos procuram. Falamos para eles apressarem o fundo do poço, ou seja, a família vai demonstrar aos poucos para o dependente que não há outra saída a não ser a internação", diz Paulo.

De acordo com Paulo, muitas famílias chegam separadas, brigadas e envergonhadas, o que dificulta a conversa entre voluntário e famílias. "Procuramos falar que não tem que ter vergonha pelo ato do dependente. Chega uma hora que nos tornamos confidentes e recebemos até ligação em nossas casas para dar conselhos ou ouvir os pais", fala Paulo.

Enquanto Paulo se envolvia com o voluntariado, foi conhecendo e gostando da religião evangélica. Em pouco tempo, se tornou evangélico e depois de cinco meses se casou com uma estagiária do Esquadrão Vida. "O voluntariado só me trouxe resultados positivos: paz espiritual e uma ótima companheira", afirma.

SUSANA SARMIENTO
do site setor3

   
 
 
 

NOTÍCIAS ANteriores
21/01/2005
Resultado do Prouni será divulgado na segunda-feira
21/01/2005
Parceria leva micro a crianças de 6 anos
21/01/2005
Pessoas doam seu tempo para ouvir desabafo de quem luta contra a solidão
21/01/2005
Voluntários superam desafios atuando em situações extremas
21/01/2005
Relatório da ONU elogia Fome Zero
21/01/2005
Programa leva crianças para conhecer litoral e interior paulista
21/01/2005
Projeto vai garantir inclusão digital
21/01/2005
Governo faz parceria para fiscalizar o Bolsa-Família
21/01/2005
STJ suspende transporte gratuito de idosos no Ceará