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As previsões
otimistas do governo se confirmaram, e o desemprego encerrou
2004 no patamar inédito de um dígito: a taxa
ficou em 9,6% em dezembro, a menor marca da nova Pesquisa
Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), iniciada em outubro de 2001.
Considerando a nova e a velha pesquisa de emprego (cuja coleta
acabou em 2002), 2004 foi o sétimo ano consecutivo
de queda na renda, com recuo de 0,8% na média anual.
O percentual, porém, é menor do que o de 2003,
quando a retração fora de 12,9% na média
de março e dezembro, período para o qual o IBGE
dispõem de dados em razão da mudança
na pesquisa.
Na média de 2004, a taxa de desemprego ficou em 11,5%
nas seis principais regiões metropolitanas do país,
0,8 ponto percentual abaixo do resultado de 2003 (12,3%).
A previsão de especialistas é que o percentual
recue um pouco mais em 2005, para a casa de 11%.
De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego cedeu em dezembro,
como sempre ocorre historicamente, por dois motivos: menos
gente procurou trabalho no período das festas de final
de ano e mais vagas foram criadas, especialmente postos temporários.
Ou seja: a procura por trabalho foi menor.
Para o IBGE, 2004 foi um ano de recuperação
do mercado de trabalho, com menor informalidade, geração
de novos postos de trabalho (inclusive com carteira assinada,
o que praticamente não aconteceu em 2003) e crescimento
da renda no último quadrimestre.
"O quadro foi mais favorável neste ano. Há,
sem dúvida, uma recuperação do mercado
de trabalho", disse Cimar Azeredo Pereira, gerente da
Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
Já o economista da Unicamp Claudio Dedecca, especializado
em trabalho, não fez uma análise tão
otimista. Disse que, de fato, as condições em
2004 foram "melhores", mas que ainda é "cedo
para falar em recuperação", pois a informalidade
continua elevada e a renda segue deprimida.
"O contexto foi mais favorável, mas uma recuperação
é um termo muito forte para ser usado. Para se dizer
isso, a renda e a formalidade teriam de aumentar de modo consistente",
afirmou.
Ao justificar sua análise, Dedecca disse que há
"um estoque" muito grande de desempregados que ainda
não foram absorvidos. "Uma taxa na faixa de 10%
é ainda muito alta."
De acordo com o IBGE, em dezembro 2,070 milhões de
pessoas estavam sem emprego nas seis principais regiões
metropolitanas -10,8% menos do que os 2,302 milhões
no mesmo mês de 2003.
Já Alex Agostini, da GRC Visão, afirmou que
o desemprego poderia ter caído ainda mais se o Banco
Central não tivesse aumentado os juros desde setembro.
Mesmo assim, considerou os dados positivos: "Os números
são, sim, motivo de comemoração. Há
um ambiente de boas expectativas tanto do lado do empresário
quanto do da população. Isso me leva a acreditar
que em 2005 o desemprego cairá ainda mais".
Dezembro
Segundo Azeredo, do IBGE, muitas pessoas deixaram o mercado
de trabalho nas duas últimas semanas de dezembro por
acreditarem que não conseguiriam uma colocação
naquela época do ano.
Tal movimento fez crescer o contingente de pessoas abrigadas
na População Não-Economicamente Ativa
(reúne os chamados inativos, aposentados, pessoas que
não procuram emprego nem trabalham e donas-de-casa),
que cresceu 2,1% em relação a dezembro de 2003.
A alta das contratações em dezembro (3,2% ante
igual mês de 2003) também ajudou a reduzir a
taxa, mas o comércio decepcionou, diz Azeredo. É
que a ocupação do setor, que tradicionalmente
abre muitas vagas temporárias no final do ano, caiu
1,2% na comparação com dezembro de 2003. No
mesmo mês daquele ano, o emprego no comércio
havia registrado alta de 3,3%.
PEDRO SOARES
da Folha de S. Paulo
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