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filho da natureza
28/01/2005
Ator luta pela preservação do ecossistema e dos índios brasileiros

Aos 15 anos de idade, quando foi fazer uma gravação – trabalhando como assistente de produção –, o ator Marcos Palmeira conheceu a aldeia xavante São Marcos, no município de Barra do Garças, no Mato Grosso. Lá, firmou um eterno laço de amizade com os índios, tanto que acabou recebendo da tribo o nome de Tsiwari, que significa "Filho Valente" na língua xavante. Em julho do ano passado, 25 anos depois, Marcos retornou ao encontro dos índios, mas desta vez a situação da tribo entristeceu o ator. As disputas territoriais levaram os xavante a se mudar para o município de Campinápolis, onde fundaram a aldeia São Pedro e a comunidade, que anteriormente vivia da caça e da coleta, passou a sofrer com a devastação do meio ambiente e sobretudo com as disputas com os proprietários de terra. A devastação do cerrado e as questões fundiárias impediram, ao longo do tempo, a estruturação de projetos de saneamento e de produção de alimentos. Para solucionar alguns destes problemas, os xavante puderam contar com a ajuda de seu Filho Valente.

Enquanto pensava em caminhos para ajudar os índios, Marcos Palmeira procurou o Sebrae, que sugeriu o projeto Mandalla como a melhor solução para a tribo. Implantado pioneiramente na Paraíba, em 1999, pela Agência Mandalla Desenvolvimento Holístico Sistêmico Ambiental, o projeto é uma forma inovadora de agricultura familiar, que utiliza mangueiras domésticas, hastes de cotonete e garrafas PET. Baseada no sistema solar, a tecnologia consiste em diversos anéis de plantação com um reservatório de água no centro. Em nove círculos ao redor do reservatório, são plantados vegetais a serem irrigados com essa água. Nos anéis mais próximos ao reservatório, estão as culturas de subsistência e nos mais afastados, as destinados à venda. No último círculo, plantas de alto porte servem para proteger o conjunto contra insetos e outros animais.

Em 2001, o Projeto Mandalla foi premiado pela Fundação Banco do Brasil, que passou a financiar sua implantação em regiões carentes do país. Foi a própria Fundação, em parceria com o Sebrae, que implantou a primeira mandala na aldeia São Pedro. Na semana passada, os índios comemoraram a colheita dos primeiros frutos. Baseada no sucesso dessa implantação, a Fundação pretende disseminar o projeto por outras aldeias e também em assentamentos rurais, comunidades quilombolas e agricultores familiares que vivem na região do semi-árido. Segundo Jacques Pena, presidente da Fundação, nos próximos 18 meses a entidade pretende implantar mais de mil mandalas.

Fórum Social Mundial
Durante o Fórum Social Mundial, esta história vai ser contada por Marcos Palmeira, que fará uma palestra ao lado de Jacques Pena. O ator leva ao encontro internacional um documentário de 80 minutos, filmado em julho do ano passado, durante a visita de 15 dias que fez aos xavante. O nome não poderia ser mais adequado: Expedição A’Uwe: A volta de Tsiwari, cuja edição está sendo concluída em Florianópolis, com estréia no dia 28, será exibido três vezes durante o Fórum. Ele é fruto de uma parceria entre a TVi e o Sebrae.

"O documentário faz um levantamento das necessidades dos índios. O que eles mais querem atualmente é produzir o próprio alimento e deixar de ser extrativistas. A Mandalla tem tudo a ver com o que a gente procurava para aproveitar da melhor forma os recursos da natureza. A nossa luta também é para que os índios não se espalhem", contou Marcos Palmeira.

A idéia de cultivar alimentos utilizando ao máximo os recursos da natureza ronda, há tempos, os planos do ator. Há oito anos, ele comprou um terreno de 300 hectares em Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, e o transformou na fazenda Vale das Palmeiras, onde são produzidos diariamente quatro quilos de alimentos orgânicos – hortaliças, legumes, frutas, flores comestíveis e laticínios. Todo o processo é natural, do adubo – fabricado por minhocas – à reciclagem do lixo produzido na fazenda. Para que isso fosse possível, o ator contou com o apoio dos xavante, que ensinaram algumas das técnicas da cultura indígena. Marcos retribuiu ensinando o que aprendeu sobre os produtos orgânicos. É uma espécie de intercâmbio. Os índios ficam em média um ano na fazenda do ator. Encantado com as mandalas, que visitou por todo Brasil junto com a Fundação BB, Palmeira pensa em instalar uma delas em sua propriedade, para a subsistência da fazenda. Lá, Marcos, grande incentivador da agricultura familiar, conta com o trabalho de cinco famílias. "A agricultura familiar é importante em tudo. Na melhoria da qualidade de vida dos agricultores, na fixação do homem ao campo", justifica.

Da Mandalla à agricultura familiar
Fixação do homem no campo. Esta é a principal justificativa dos especialistas em geografia humana que defendem o incentivo à agricultura familiar, expressão surgida na década de 1990. Uma conceituação adequada, no entanto, demorou mais algum tempo para surgir. Baseado no Censo Agropecuário 1995/96 do IBGE, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em convênio com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (Fao), desenvolveu dois critérios fundamentais para que o agricultor seja caracterizado como familiar. O primeiro estabelece que o produtor familiar deve ser o responsável pela direção dos trabalhos do estabelecimento. Se ele for dirigido por um gerente, passa a ser considerado patronal. O segundo estipula que o trabalho familiar – UTF (Unidade de Trabalho Familiar) – deve ser superior ao trabalho contratado – UTC (Unidade de Trabalho Contratada).

A importância econômica da agricultura familiar brasileira ganhou visibilidade em 2003, por causa de um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), encomendado pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) do Ministério do Desenvolvimento Agrário. O estudo revelou que a agricultura familiar é responsável por 40% da riqueza gerada no campo no Brasil, o que equivale a aproximadamente R$ 57 bilhões. Só em 2003, a agricultura familiar representou 10,1% do PIB do agronegócio, movimentando R$ 156,6 bilhões.

No entanto, mesmo tendo esta importância, o agricultor familiar ainda encontra entraves para seu trabalho. O principal deles, segundo Marcos Palmeira, é a distribuição: "As estradas brasileiras estão em péssimas condições. Os pedágios são caros demais e isso torna o frete muito caro. Por isso, eu sempre defendi que a fome não é falta de comida e sim comida mal distribuída. A mesma coisa ocorre com as riquezas no Brasil. Existe uma concentração muito grande na mão de poucos."

Para facilitar o escoamento da produção agrícola familiar, o governo criou em 2003 o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que atua em parceria com o Projeto Fome Zero. O Consea compra, armazena e distribui os alimentos produzidos por agricultores familiares de todo país. A maioria dos alimentos é destinada a doações do próprio Fome Zero e o restante fica em armazenamento estratégico para o caso de desabastecimento. Segundo Silvio Porto, diretor de logística e gestão empresarial, o Consea é um complemento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), criado em 1995. Conduzido pela Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Pronaf fornece suporte financeiro, com encargos favorecidos, aos produtores rurais que desenvolvem suas atividades agropecuárias e agrícolas utilizando, basicamente, mão-de-obra familiar.

Os investimentos no Pronaf seguem com força total neste ano. Em dezembro de 2004, Miguel Rossetto, ministro do Desenvolvimento Agrário, anunciou que em 2005 o governo pretende investir R$ 7 bilhões na agricultura familiar por meio do programa – 1,2 bilhão a mais do que o valor investido em 2004. Segundo Porto, em 2005 o Consea também pretende aumentar os recursos voltados para os agricultores familiares. Em 2003 cerca de 40 mil famílias foram atendidas pelo conselho. No ano passado, esse número foi superado.

"Um balanço do nosso trabalho em 2004 ainda não está concluído, mas acreditamos que tenhamos atendido mais de 55 mil agricultores familiares. Além da compra direta, nós fazemos também a compra antecipada, adiantando recursos para que os agricultores tenham condições de investir nos meios de produção. O Consea tem, inclusive, parcerias com a Fundação Banco do Brasil em projetos sociais como é o das Minifábricas de caju no Ceará e no Piauí", explicou Silvio.

Além da Fundação, o Banco do Brasil também tem sua parcela de contribuição no incentivo à agricultura familiar. Por meio de um Balcão de Agronegócios virtual (https://balcao.bb.com.br/balcao/app/login), o banco facilita as transações comerciais entre agricultores. No endereço, é possível negociar animais vivos, grãos, cereais, insumos, máquinas e equipamentos agrícolas, produtos orgânicos, entre outros. Além de atender aos grandes produtores, o espaço é aberto aos agricultores familiares e aos assentados pela reforma agrária. Para fazer negócios online, no entanto, é preciso que o agricultor seja cliente do Banco do Brasil.

Os agricultores familiares e os povos indígenas agradecem o apoio.

"Não me considero um xavante. Me considero um branco com uma ligação afetiva muito grande com os índios. Um guerreiro tentando ajudá-los nessa luta", conclui Marcos Palmeira.

DANIELLE CHEVRAND
da Fundação Banco do Brasil

   
 
 
 

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