Experiência
em 200 escolas públicas nos Estados de São Paulo
e de Santa Catarina mostra que é possível ter
alguns resultados imediatos no avanço da qualidade
do ensino público brasileiro melhorando a gestão
do diretor das unidades de ensino.
Um teste do projeto Gestão para o Sucesso Escolar aplicado
aos alunos dessas escolas antes e depois de um programa de
capacitação de diretores mostrou que o desempenho
escolar médio dos estudantes melhorou de 2003 para
este ano.
Entre alunos da 4ª série do ensino fundamental,
a média de acertos numa prova de língua portuguesa
passou de 24 para 29 num total de 40 questões. Adaptando
para uma escala de 0 a 100, a média subiu de 61 para
71. O mesmo aconteceu com alunos da 8ª série,
na qual a média de acertos passou de 26,5 para 30 questões,
o que, numa escala de 0 a 100, equivale a uma melhoria de
66 para 75.
Neste mês, a qualidade da educação brasileira
foi novamente criticada após uma avaliação
internacional (o Pisa, sigla em inglês para Programa
Internacional de Avaliação de Alunos) ter colocado
o país nas últimas colocações
de um ranking de ensino feito entre 41 nações
desenvolvidas ou em desenvolvimento.
O teste aplicado aos alunos das 200 escolas públicas
seguiu o padrão do Saeb (exame do MEC que avalia a
qualidade da educação brasileira). Foram aplicadas
provas com o mesmo nível de dificuldade neste ano e
no ano passado.
Nesse intervalo, o Instituto Gestão Educacional (da
Fundação Lemann) e o Instituto Protagonistés
ofereceram aos 200 diretores dessas escolas um curso de capacitação
feito, na maior parte do tempo, pela internet, ou seja, sem
que tivessem que sair do trabalho.
Os melhores diretores foram premiados com um curso de capacitação
em Buenos Aires (Argentina) e suas escolas receberão
uma verba de R$ 15 mil para ajudar na
implementação de um projeto pedagógico.
Na avaliação da diretora-executiva da Fundação
Lemann e do Instituto Gestão Educacional, Ilona Becskeházy,
os resultados dos testes mostraram que é possível
melhorar a educação a curto prazo. "O problema
da qualidade do ensino no Brasil exige o aumento do investimento
per capita, mas os resultados mostram que é possível
ver melhorias mensuráveis num curto espaço de
um ano trabalhando com os diretores de escolas", disse
Becskeházy.
Para Rose Neubauer, diretora-presidente do Instituto Protagonistés,
os diretores que tiveram os melhores resultados foram aqueles
que conseguiram envolver toda a equipe da escola no projeto
de melhoria da qualidade. "A partir da avaliação
inicial, a gente dava dicas e discutia com os diretores alternativas
para melhorar o desempenho dos alunos nos pontos em que eles
estavam mais fracos. Após esse diagnóstico,
cabia ao diretor agir como liderança e reunir os professores
para trabalhar essas questões", diz.
Becskeházy afirma que os resultados do teste mostram
como é importante evitar que a escolha de diretores
de escolas públicas seja pautada por questões
políticas ou corporativistas.
"A carreira dos diretores e professores tem que se pautar
no interesse do aluno, e não no interesse político
ou dos sindicatos. No caso dos professores, por exemplo, é
comum ver os mais experientes em funções burocráticas,
quando poderiam estar trabalhando com os alunos. É
comum também que o professor escolha onde quer trabalhar,
quando o correto seria encaminhar os melhores para as escolas
que mais precisam", afirma a diretora-executiva da Fundação
Lemann.
No caso dos diretores, Neubauer afirma que a maioria dos cursos
de capacitação para os gestores da escola no
Brasil enfatizam muito mais questões burocráticas
do que pedagógicas:
"É muito mais fácil você formar um
burocrata do que uma liderança pedagógica. Em
vários países, os diretores que passam por concurso
só são efetivados no cargo após fazer
um curso de liderança. Acho que temos que caminhar
nessa direção", diz a educadora.
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S. Paulo
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