Após
dois meses e meio de greve dos professores e funcionários
das Escolas Técnicas Estaduais (ETEs) e das Faculdades
de Tecnologia do Estado (Fatecs), o Centro Paula Souza, que
administra as unidades de ensino, e a Secretaria Estadual
de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico
e Turismo anunciaram ontem o recrudescimento das medidas para
tentar retomar as aulas: a substituição de funcionários
parados há mais de 30 dias corridos ou há 45
intermitentes ou até mesmo a demissão dos grevistas.
"Já temos uma portaria que pede aos diretores
das unidades que identifiquem os professores parados para
substituição", declarou o secretário
João Carlos Meirelles.
Segundo ele, após a identificação, que
deve ser iniciada hoje, será aberto um processo. O
funcionário terá então 15 dias para apresentar
sua defesa.
"Caso não haja retorno às aulas, os professores
podem ser afastados em definitivo ou podemos chamar substitutos",
disse. "O processo pode chegar ao limite do abandono
de emprego."
Para lançar esse argumento, o secretário tratou
de se referir ao movimento como "paralisação",
e não como "greve".
Isso porque, de acordo com Sônia Mascaro, doutora em
direito do trabalho pela USP, a demissão por abandono
de emprego em situação de greve não é
legal, mas seria em situação de paralisação.
"Se a greve é lícita, ou seja, se foi deflagrada
por um sindicato, com aviso prévio e em assembléia,
os contratos de trabalho desses funcionários ficam
suspensos no período. Portanto, não há
abandono de emprego", explica.
Para Neusa Santana Alves, presidente do Sinteps (Sindicato
dos Trabalhadores do Centro Paula Souza), a greve deve continuar,
"apesar das ameaças", e a categoria já
tem respaldo judicial para confrontar possíveis demissões.
Negociação
O secretário também anunciou ontem que vai descontar
dos salários dos funcionários os dias em que
ficaram parados. Meirelles acenou, no entanto, com uma possível
discussão salarial com a categoria a partir do fechamento
do balanço do governo no quadrimestre. "Assim
que saírem os dados [do balanço], sentaremos
para discutir revisão salarial." O secretário
disse que o governo está otimista quanto à previsão
de aumento na arrecadação do ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços),
o que possibilitaria um reajuste para a categoria dentro das
normas da Lei de Responsabilidade Fiscal.
A lei é o argumento utilizado pelo governo até
agora para refutar a reivindicação de reajuste
de 72,22% pleiteado pela categoria.
Os diretores das Fatecs propuseram a formação
de uma comissão de mediação das negociações
entre grevistas e governo.
FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo
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