O Brasil
tem hoje cerca de 80 mil crianças vivendo em abrigos.
Um amplo painel sobre a situação dessas instituições
foi levantado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e
Política Aplicada (Ipea), em pesquisa divulgada no
início de abril/2005. O Instituto Camargo Corrêa
(ICC) é uma das poucas organizações que
apóia os abrigos brasileiros.
O Instituto, criado em dezembro de 2000 e mantido pelos acionistas
do grupo Camargo Corrêa, fornece apoio técnico
e financeiro a entidades que desenvolvem projetos nas áreas
de saúde, educação e cultura, voltados
a crianças e adolescentes. Para tratar especificamente
da questão dos abrigos, criou, em 2003, o 'Programa
Abrigar', que financia estudos sobre a área e promove
melhoria nas instituições.
"Ao decidir trabalhar com abrigos, o Instituto Camargo
Corrêa teve a intenção de tirar esse tema
do esquecimento e de contribuir para que essas instituições
realmente possam proteger uma parcela da população
que está justamente entre as mais vulneráveis
da nossa sociedade - as crianças que têm família,
mas não podem se manter integradas a ela", justifica
Eveline Stringhini Tavares, diretora de Recursos Humanos do
ICC. Segundo ela, as empresas do Grupo Camargo Corrêa
buscam ter sempre presentes os conceitos de responsabilidade
social em todas as suas atividades e, para tanto, as equipes
são permanentemente conscientizadas, transmitindo-se
a idéia básica de que a atuação
individual deve ser pautada por esses conceitos.
O Abrigar soma investimentos de R$ 1.049 milhão e
já beneficiou diretamente 175 crianças de 35
abrigos e capacitou 108 profissionais que atuam nessas instituições.
"O investimento social corporativo é uma parcela
muito importante da responsabilidade social", destaca
a diretora.
Em dezembro de 2004, o 'Programa Abrigar' realizou um seminário
com a participação de 250 pessoas, entre técnicos
e gestores de entidades, representantes do governo e da sociedade
civil, conselheiros tutelares e de direito e operadores do
sistema de Justiça, para tratar da questão dos
abrigos. O ICC planeja organizar novos encontros como esse
a cada dois anos.
"O fato é que, por falta de apoio, muitos abrigos
transformam-se em verdadeiros depósitos de crianças,
agravando os problemas sociais e familiares", diz Melissa
Pimentel, superintendente do Instituto.
Situação atual
Passados 15 anos da criação do Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), que estabeleceu a substituição
dos antigos orfanatos pelos abrigos, essas instituições
continuam sem condições de atender adequadamente
meninos e meninas sob tutela do Estado. Entre outros problemas,
não existe uma política pública nacional
voltada para o setor, poucos Estados e municípios investem
em programas, os recursos financeiros são escassos
e falta formação para os profissionais que trabalham
nas entidades.
Apenas na cidade de São Paulo, há 4.885 crianças
e adolescentes nessas instituições. Elas estão
distribuídas em 193 abrigos, que sobrevivem, em sua
maioria, às custas da boa vontade da sociedade, de
doações e campanhas de arrecadação
de fundos. Em geral, essas instituições funcionam
em desacordo com o ECA, que recomenda unidades pequenas e
com número reduzido de crianças e adolescentes,
boas condições de acomodação,
profissionais especializados, e ações de inclusão
social.
"Mesmo com dificuldades, os abrigos são necessários
e conseguem dar casa e comida a crianças e jovens.
Mas estão longe de ser um lar para eles", afirma
Isa Guará, consultora do Programa Abrigar. Na opinião
dela, é hora de rever as responsabilidades do poder
público e a relação dos abrigos com a
comunidade, os conselhos tutelares e o Judiciário.
"A sociedade como um todo precisa dar mais atenção
a estes cidadãos que tiveram seus vínculos familiares
desfeitos de alguma maneira", conclui ela.
As informações são
do Instituo Ethos de Responsabilidade Social.
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