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Os preços no município de São
Paulo registraram queda em fevereiro, pela primeira vez em
seis meses. O ICV (Índice do Custo de Vida), calculado
pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Sócio-Econômicos), teve queda de 0,18%,
ante aumento de 1,46% em janeiro.
Embora o mês de fevereiro tradicionalmente
registre recuo do índice, devido ao fim de pressões
sazonais, a deflação não era esperada
pela instituição, que estimava taxa próxima
de zero. Foi a primeira deflação para o segundo
mês do ano desde 2000.
"Esse número [-0,18%]
revela que atravessamos um processo de estabilidade. Não
acho que [a deflação] voltará a se repetir,
mas a taxa deve continuar perto de zero nos próximos
meses", afirmou Cornélia Nogueira Porto, coordenadora
do ICV do Dieese. O índice ficara negativo pela última
vez em agosto de 2003 (-0,15%).
Pelo IPC (Índice de Preços
ao Consumidor), medido pela Fipe (Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas), a última deflação
no município de São Paulo ocorrera em julho
(-0,08%). Pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
em junho (-0,15%), na região metropolitana de São
Paulo.
Segundo Porto, os preços deverão
ser pressionados apenas a partir de junho, com o início
dos reajustes dos preços administrados, como as tarifas
de energia elétrica, telefonia e transporte.
A ausência de pressões
abre espaço, segundo ela, para o Banco Central reduzir
a taxa básica de juros, estacionada em 16,5% ao ano
desde dezembro de 2003.
Dos dez grupos que compõem o índice, quatro
caíram em fevereiro. As maiores quedas ocorreram em
vestuário (-0,99%), alimentos (-0,59%) e transportes
(-0,3%). Entre outros grupos, os preços de habitação
caíram 0,07%, e os de saúde aumentaram 0,24%.
Na relação dos itens
que respondem pelas pressões sazonais, os preços
de educação, que haviam subido 8,55% em janeiro
e respondido por 0,60 ponto percentual na inflação
de 1,46%, tiveram variação de 0,16% em fevereiro
-janeiro costuma ser um mês de reajuste das mensalidades.
Já os alimentos "in natura"
tiveram queda de 0,92%, após um aumento de 1,8%. O
preço do tomate, que havia aumentado 32,3% em janeiro,
caiu 19,9%.
Convergência
A tendência de interrupção dos aumentos
dos preços no município de São Paulo
também já havia sido detectada pela Fipe. O
IPC em fevereiro ficou em 0,19%. Em janeiro, o índice
registrou variação maior, de 0,65%.
A divergência entre os
números pode ser explicada por meio de diferenças
na metodologia dos índices. A faixa de renda pesquisada
pela Fipe, por exemplo, se estende até 20 salários
mínimos, enquanto o Dieese não adota um teto
-embora o ICV calcule a inflação para três
estratos. A área pesquisada para o cálculo dos
dois índices é a mesma.
O Dieese prevê que a inflação
neste ano na cidade de São Paulo fique em torno de
5,5%, e a Fipe, entre 5,5% e 6%.
No acumulado em 12 meses, o
ICV registra variação de 6,36%, e o IPC, de
5,05%. A meta de inflação do governo para 2004,
medida pelo IPCA, é de 5,5%, com margem de tolerância
de 2,5 pontos percentuais.
MARCELO SAKATE
da Folha de S. Paulo
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