Vanessa Sayuri Nakasato
A Câmara Municipal de São
Paulo está prestes a aprovar um projeto de lei que
regulamenta as casas de jogos de computador interligados em
rede, conhecidas como “lan houses”. O projeto
tem como objetivo limitar e restringir o uso das máquinas
para menores de idade. O motivo são os jogos que, supostamente,
estimulam a violência em crianças e adolescentes.
Embora não tenha sido aprovado,
ainda, o texto do vereador Willian Woo (PSDB) tem causado
muita polêmica. Enquanto alguns acham o projeto razoável,
outros o consideram fraco. Todas as opiniões têm
sido baseadas na lei sancionada pelo prefeito do Rio de Janeiro,
César Maia, em setembro, que proíbe menores
de 18 anos de freqüentar as lan houses.
O projeto de lei de São
Paulo não impede a freqüência, mas impõe
regras. Exige a apresentação de autorização
expressa do responsável legal da criança ou
adolescente, com firma reconhecida, para permanência
no local no período entre 22h e 6h. Não permite
que menores de 18 anos utilizem computadores por mais de três
horas ininterruptas. E determina a exposição,
em lugar visível, da lista de todos os serviços
e jogos disponíveis, com classificação
etária, segundo recomendação
do Ministério da Justiça.
Estima-se que, atualmente, existam
três mil lan houses em todo o Brasil, 700 delas na Grande
São Paulo. As casas de games disponibilizam 60 mil
computadores no Brasil e o seu uso custa de R$ 2 a R$ 4 a
hora. Só no estado de São Paulo são 25
mil máquinas.
Para o presidente da Associação
Brasileira de Lan Houses (ABLH), Alexander Hlebanja, o projeto
de lei é inteligente e atende a todos. “É
um projeto sensato, que pensa nas crianças e nos adolescentes
sem prejudicar os empresários. O que aconteceu no Rio
é um absurdo”, disse ele ao GD.
Para a professora Maria Ângela
Antunes, do departamento de Orientação Educacional
do Colégio Bandeirantes, o projeto é “muito
bonzinho”. Para ela, as lan houses deveriam ser proibidas
para menores de 18 anos em São Paulo, assim como no
Rio de Janeiro.
A professora afirma que houve uma
queda nas notas e diminuição no tempo de estudos
de pelo menos 50% dos alunos da escola. Os estudantes também
passaram a cabular mais as aulas para ficar em lan houses
na frente do colégio.
Segundo ela, não só
o corpo docente como os próprios pais vão ao
colégio reclamar da agressividade de seus filhos e
dizem não saber o que fazer a respeito. “O pior
é que quase todos os alunos que freqüentam as
lan houses me contam que os jogos de violência são
‘os mais legais’. Na opinião deles é
estimulante matar para não morrer”, relatou.
De acordo com o psicólogo Paulo
Annunziata Lopes, membro do Núcleo de Pesquisa de Psicologia
em Informática da PUC-SP, a influência dos games
realmente existe, mas não é possível
afirmar que a agressividade de alguém provenha de jogos
eletrônicos. Há outros fatores que podem estimular
o lado agressivo de um ser humano, como a televisão,
problemas pessoais e a própria sociedade.
O psicólogo explica que a preferência
das crianças, adolescentes e até adultos por
jogos de violência se deve à atual situação
do país. “Eles não acham graça
em se entreter com jogos educativos porque no dia-a-dia só
vêem violência. Nos games, eles conseguem brincar
com as tragédias humanas que, de certa forma, foram
banalizadas”, lamentou.
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