A abstenção do primeiro
vestibular da Faculdade Zumbi dos Palmares — inaugurada
neste ano na Zona Norte de São Paulo e voltada principalmente
para negros — foi de apenas 5%. A prova, com 40 questões
de conhecimentos gerais, matemática e língua
portuguesa, foi feita ontem de manhã. A Unesp também
fez sua primeira prova ontem e a abstenção foi
de 9,9%.
De acordo com José Vicente,
reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, dos 600 candidatos
inscritos, cerca de 5% não compareceram. A entidade
oferece 200 vagas.
Considerada fácil pela maioria
dos vestibulandos, a prova teve 40 questões de múltipla
escolha — 20 de conhecimentos gerais, dez de língua
portuguesa e literatura brasileira e dez de matemática
—, além da redação, que abordou
a questão da diversidade étnica, cultural e
a capacidade de superar o preconceito.
“Fiz a prova tranqüilamente,
sem dificuldade”, disse Daiane Perasoli, de 18 anos,
que pretende cursar Administração Geral. A estudante
ainda aproveitou a ocasião para fazer um protesto contra
as universidades públicas e privadas do país.
“Nós, negros, não temos oportunidades
em faculdades como a PUC (Pontifícia Universidade Católica)
e a USP (Universidade de São Paulo). Essas instituições
não nos dão espaço”, disse.
O ator Nil Marcondes, de 31 anos,
do seriado “Turma do Gueto”, da Rede TV!, que
prestou vestibular para o curso de Administração
Financeira, também fez críticas ao sistema educacional
brasileiro. “Considero a Zumbi dos Palmares um projeto
de cidadania. Precisamos mostrar para todos que temos os mesmos
direitos e que somos iguais aos brancos, apesar de o sistema
insistir em dizer que não somos.”
Mas, o exame não teve apenas
a participação de negros. Muitos brancos optaram
por prestar o vestibular da Zumbi dos Palmares devido ao baixo
valor das mensalidades.
Foi o caso de Leonardo de Almeida,
de 28 anos. “Trabalho como auxiliar administrativo e
o que ganho não dá pra pagar uma universidade
particular. Além disso, acho importante ter um envolvimento
com um local como este, em que assuntos como racismo e diversidade
étnica são tratados com tanta atenção”,
disse o candidato ao curso de Administração
Geral.
RENATA TURBIANI
do Diário de S.Paulo
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