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Apesar de liderarem as ocorrências
de tráfico de drogas e de concentrarem o maior número
de internos da Febem por esse tipo de crime, o Jardim Brasil
e regiões próximas não registram os piores
índices de pobreza e de violência da capital
paulista.
Segundo especialistas, conselheiros tutelares, dirigentes
de organizações não-governamentais e
moradores, esse aparente contraste revela que a pobreza não
é único fator para se explicar o crescimento
do envolvimento dos jovens no tráfico.
Jaçanã e Vila Medeiros -distrito territorial
do município do qual o Jardim Brasil faz parte- apresentam
problemas sociais, mas não estão entre as piores
localidades identificadas pelo IVJ (Índice de Vulnerabilidade
Juvenil), da Fundação Seade. Eles ocupam o 28º
e o 38º lugares, respectivamente, no ranking dos distritos
com maior risco dos jovens serem cooptados pelo crime.
No Mapa da Exclusão/Inclusão Social 2000, os
dois distritos também não estão no grupo
mais problemático. Jaçanã ocupa o 55º
lugar no ranking da avaliação do melhores e
Vila Medeiros a 68ª colocação entre 96
distritos.
"Não é só a pobreza, mas sim a negligência
das autoridades que favorece a estrutura do tráfico",
afirmou Karyna Batista Sposato, diretora-executiva do Ilanud
(Instituto Latino-americano das Nações Unidas
para Prevenção do Delito e
Tratamento do Delinqüente). Segundo ela, a ociosidade
dos jovens pela falta de locais de lazer, o desemprego e o
descrédito de instituições, como a polícia,
aumentam a força do tráfico.
O resultado é uma população descrente,
amedrontada e desorganizada. "Isso influi até
na consciência política das pessoas, que se submetem
ao tráfico e perdem sua capacidade de organização."
"O que fazer? As pessoas têm medo e fazem a política
da boa vizinhança", disse Leni Rita Brito da Costa,
43, conselheira tutelar da região. "Falta investimentos
de empresários na região. Eles só vêm
para sugar e não retribuem."
Segundo Rafael Neves Maciel Júnior, 44, outro conselheiro,
a ineficácia da polícia em alguns casos também
agrava o problema. Há dois meses, uma adolescente denunciou
anonimamente um traficante, mas a polícia não
tomou cuidado, segundo Maciel Júnior, e o criminoso
descobriu a identidade da jovem no mesmo dia. Isso obrigou
o Conselho Tutelar a retirá-la do bairro.
Segundo os conselheiros tutelares, a falta de vagas em creches
-cerca de 8.000 - e problemas na qualidade do ensino agravam
ainda mais a situação na região.
Quando conversava com a Folha sobre o tráfico no Jardim
Brasil, a estudante do terceiro ano do ensino médio
Ana (nome fictício), 17, também disse que, pelo
segundo dia consecutivo, não teve aula por causa da
falta de professores em uma escola estadual do no bairro.
"Não posso pagar curso pré-vestibular.
Como vou competir com alguém que tem aula todo dia",
disse.
As informações são
da Folha de S.Paulo.
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