Emilio Kalil, presidente-executivo
da BrasilConnects, tenta fechar as portas da Oca do Ibirapuera
com dignidade. "Os compromissos serão cumpridos.
Se Deus quiser, todos", disse Kalil ontem, falando ao
Estado por telefone, enquanto vistoriava a exposição
Fashion Passion, a derradeira da instituição.
Mas não vai ser tão fácil entregar a
Oca a um voluntário. Mesmo fechado, o custo de manutenção
do prédio fica entre R$ 100 mil e R$ 150 mil por mês
- parte disso devido aos modernos equipamentos de climatização
e controle de umidade que foram instalados na reforma do edifício,
que custou US$ 11 milhões. Kalil conta com a adesão
da Bienal de São Paulo.
Em 4 anos de atividades, o museu realizou 45 mostras de arte,
entre elas Os Guerreiros de Xi'an, que recebeu 820 mil pessoas,
e Picasso na Oca, recorde de visitação, com
905 mil pessoas. Segundo Kalil, a instituição
também restaurou 166 obras de arte brasileiras, como
o altar-mór do Mosteiro de São Bento de Olinda
(PE).
Na carta que o sr. enviou às autoridades,
fala em suspender as atividades da BrasilConnects. Suspender
é um eufemismo para fechar?
A BrasilConnects fecha temporariamente. Pode ser
que volte, pode ser que não. Pode ser que alguém
amanhã queira gerir a instituição.
Quantos funcionários tem a entidade?
A BrasilConnects sempre teve estrutura flutuante.
O corpo de funcionários é sempre ligado aos
eventos. Até 5 de dezembro, por conta da exposição
Fashion Passion, tínhamos 200 pessoas trabalhando.
Agora, que não há mais a ação
educativa, esse número caiu para 100 pessoas. Há
pessoas trabalhando na segurança, limpeza, na loja,
etc. Mas são todos prestadores de serviços,
não são funcionários.
E a exposição Brésil Indien,
que a BrasilConnects levaria ao Grand Palais, em Paris? Ela
está comprometida?
Ela está pronta. Não está comprometida
absolutamente. Já tem patrocinadores importantes. Custa
cerca de R$ 2 milhões e já está praticamente
toda captada (os recursos).
Quem vai a Paris? É a BrasilConnects? Ela
não está sendo fechada?
Não será a BrasilConnects. Possivelmente,
será a Bienal de São Paulo. É mais ou
menos como aquela história da criança que cresce,
estuda, amadurece, mas quando vai se formar perde o pai e
ganha um padastro. De qualquer modo, isso não está
decidido. O Manoel (Pires da Costa, presidente da Bienal)
é simpático à idéia, mas ele não
decide sozinho. Precisa consultar o conselho. Está
feliz da vida em participar disso, mas precisa de apoio.
O que disse disso tudo o ministro Gilberto Gil?
O Gil sabe como todo mundo, pelos jornais. E agora,
pela correspondência que lhe enviamos.
Vocês sempre diziam que a BrasilConnects não
seria afetada pelo problema do Edemar Cid Ferreira, que era
completamente independente...
O que eu dizia é que a empresa tinha independência
jurídica. Mas não é uma independência
absoluta. É óbvio que tem relação
com a figura do Edemar, o prestígio do mecenas, do
colecionador. Ele criou isso, ele é o pai da criança.
Ele soube dessa decisão de fechar? O que disse?
Ele está absolutamente a par da situação.
Ele também acha que esse é o melhor caminho.
São palavras dele.
Dizem que vocês prorrogaram a exposição
Fashion Passion porque não tinham como devolver as
obras emprestadas. Isso é verdade?
Isso é baboseira. O fato é que a exposição,
quanto mais tempo fica aberta, mais despesa ela dá.
Prorrogamos para aumentar o público, para possibilitar
que mais pessoas a visitem nesses feriados e só depois
vamos fechar. Passou dos 200 mil visitantes. Os compromissos
serão cumpridos, se Deus quiser. Todos. Vamos honrar
os contratos. Mas não há contratos para o futuro,
só mostras acertadas verbalmente. Essas vamos cancelar.
De qualquer modo, vocês não podem simplesmente
fechar a Oca, não é? Tem uma estrutura funcionando
que não pode ser parada.
A Oca é da prefeitura. Nós a manteremos até
o dia que a Prefeitura a retomar.
É cara a manutenção?
É cara, é muito cara. Tem de ter um
técnico de ar condicionado permanentemente trabalhando
lá dentro. A limpeza também deve ser permanente,
porque a Oca está dentro do Parque. E não pode
deixar nada deteriorar, porque compromete sua estrutura como
museu.
JOTABÊ MEDEIROS
do jornal O Estado de S. Paulo
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