A diminuição do dinheiro
e dos passes em poder dos cobradores de ônibus e dos
perueiros desde a adoção do bilhete único
está por trás da redução recorde
no número de assaltos no sistema de transporte público
de São Paulo. É o que dizem empresários
e Prefeitura. De fato, em junho, primeiro mês do novo
método, foram registrados 611 ataques de assaltantes
na capital, uma queda de 50,6% em comparação
com a média mensal de 2003 – 1.238 casos.
A maioria desses roubos ocorre na
periferia, principalmente na zona leste. Desde 2000, em média,
de 6 a 12 desses assaltos terminaram com morte todos os anos.
Foi o que ocorreu com o motorista Aldeni Silva Novaes, de
43 anos, da Viação Brasil Luxo. Ele fazia a
última viagem da linha Jaraguá-Santana, na zona
norte, quando dois homens entraram no veículo.
Ao passar diante de uma base policial,
o motorista não teve dúvida: entrou com o veículo
no posto. O ladrão atirou três vezes em Novaes.
Ele acabou preso enquanto seu parceiro fugiu pela janela sem
levar os R$ 15 e 10 passes que estavam com o cobrador.
O bilhete único começou
há dois meses. Até ontem, segundo a Secretaria
Municipal dos Transportes, 45% das passagens diárias
já eram pagas pelo novo esquema. Ao todo o sistema
municipal transporta 3,5 milhões de passageiros por
dia em 5,5milhões de viagens.
O bilhete funciona com um cartão
recarregável, como o de telefonia pré-paga.
O passageiro compra em postos da SPTrans e em casas lotéricas
créditos que são carregados em seu cartão.
Cada vez que ele toma ônibus, passa o cartão
em uma máquina que debita do bilhete o valor da passagem.
A passagem eletrônica tem validade por duas horas. Assim,
o passageiro pode tomar uma segunda ou terceira condução
usando aquele primeiro crédito.
Os passes e vales-transporte, outros
alvos dos ladrões, acabarão em outubro. Agosto
será o último mês em que a Prefeitura
os distribuirá para as empresas, que têm até
lá para se adaptarem ao sistema – passes e vales
têm validade de dois meses.
O sindicato das empresas de ônibus
de São Paulo, o SPUrbanuss (antigo Transurb), credita
a diminuição dos roubos à informatização
do sistema. De acordo com o sindicato, além do bilhete
único, a catraca eletrônica ajudou a retirar
o dinheiro e passes dos cobradores, tornando os caixas dos
ônibus menos atraentes aos ladrões. Para os empresários,
com a adesão cada vez maior da população
ao novo bilhete, a tendência é esse crime diminuir
ainda mais.
O secretário municipal dos
Transportes, Gérson Luis Bittencourt, disse que a redução
dos roubos já era esperada quando o bilhete único
foi adotado. “Não há outra explicação
para a diminuição significativa dos assaltos.”
Segundo ele, os roubos a garagens de empresas de ônibus
também caíram. Os números da Prefeitura
têm como base dados das empresas de ônibus e cooperativas
de perueiros – aí não estão incluídos
os roubos a peruas clandestinas.
Não há, por enquanto,
estudo para saber se houve migração dos ladrões
dos ônibus para as lotéricas. Cerca de 700 delas
estão credenciadas a vender os bilhetes – há
3 postos da SPTrans. O problema é que as lotéricas
são um alvo antigo dos ladrões, pois, além
dos jogos, recebem dinheiro de contas de água, luz
e outras, por meio do sistema da Caixa Econômica Federal.
Quando o passageiro é roubado, ele deve ligar para
o 156 e bloquear o cartão. Para tanto, deve fornecer
o número que fica atrás do bilhete.
Balanço
A redução dos roubos no transporte acompanha
outra tendência: a diminuição em 2,4%
dos roubos na cidade, conforme mostram os números do
primeiro trimestre deste ano (41.016) em relação
ao mesmo período de 2003 (42.055). Nos últimos
dois anos, a polícia fez operações na
zona leste para tentar prender ladrões de ônibus,
principalmente em Itaquera e Sapopemba.
MARCELO GODOY
do jornal O Estado de S. Paulo
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