Vanessa Sayuri Nakasato
Cerca de 6%. Esse é o percentual
de morte/ano dos portadores de obesidade mórbida que
esperam pela cirurgia bariátrica e gastrectomia parcial
nos hospitais públicos de São Paulo. O número
é seis vezes maior do que a quantidade de mortes ocorridas
nas mesas cirúrgicas, segundo o professor de Cirurgia
do Aparelho Digestivo da Universidade de São Paulo,
Bruno Zilberstein.
Atualmente, cada hospital possui,
em média, 600 pessoas na fila e o tempo mínimo
de espera é de três anos. Embora o Sistema Único
de Saúde (SUS) repasse verba para o tratamento de obesidade
mórbida aos hospitais públicos, na capital,
menos de 10 possuem estrutura básica exigida pelo Ministério
da Saúde para oferecer a cirurgia.
Os óbitos por obesidade, em
São Paulo, cresceram mais de 200% nos últimos
sete anos, de acordo com o Programa de Aprimoramento de Informações
de Mortalidade do Município (PRO-AIM). “É
um dado bem significativo. Tanto que, a partir deste ano,
a doença será incluída na nossa lista
de causas específicas para ser melhor estudada”,
disse Mauro Taniguchi, médico do PRO-AIM.
A responsabilidade das cirurgias de
obesidade na capital paulista, hoje, são dos hospitais
estaduais e federais. Mas devido ao aumento do índice
de mortalidade, os vereadores Celso Jatene e bispo Atílio
Franscisco, ambos do PTB, criaram um projeto de lei que institui
o Programa de Cirurgia Bariátrica e Gastrectomia Parcial.
O intuito é passar a destinar recursos à rede
hospitalar municipal para o tratamento da doença.
O projeto foi aprovado em novembro
do ano passado. No entanto, foi vetado pela prefeita Marta
Suplicy no último dia 10. A Prefeitura alega que a
cirurgia de obesidade mórbida é de alta complexidade
e, estruturar os hospitais para atender esse tipo de demanda,
oneraria significativamente os cofres do município.
Uma cirurgia bariátrica, por
exemplo, custa de R$ 16 mil a R$ 20 mil. Mas o tratamento
não se resume apenas à operação.
São necessárias equipes multidisciplinares de
diversas áreas da saúde para o acompanhamento
do paciente desde o pré até o pós-operatório.
A Prefeitura de São Paulo entende
que a população de obesidade mórbida
não é expressiva ao ponto de impor despesas
desse porte. “O projeto aprovado não é
de interesse público. O montante de dinheiro investido
para tal não atenderia a grande parcela dos paulistanos
que utilizam o serviço de saúde do município”,
diz o veto.
Para o professor da USP, é
fundamental que todo hospital tenha cirurgia de obesidade.
“É a doença da modernidade e, cada vez,
mais pessoas estarão condenadas a ela”, alertou.
Conforme o Zilberstein, além de a obesidade mórbida
reduzir em 10 anos a vida de um ser humano, provoca uma série
de doenças como diabetes, insuficiência cardíaca,
artrose no joelho, câncer, hipertensão e depressão.
Jatene ressalta que seu projeto não
tem o objetivo de atender caprichos estéticos. “Sabemos
que o dinheiro do SUS é como cobertor de pobre: cobre
a cabeça e descobre os pés. Entretanto, gostaríamos
que a Prefeitura desse um pouco mais de atenção
a esse assunto. Nosso objetivo é salvar vidas”,
explicou.
Apesar do alto índice
de mortalidade, São Paulo é a cidade que mais
oferece cirurgia de obesidade mórbida no país.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2003,
foram feitas 654 cirurgias no estado paulista. Mais da metade
foi realizada na capital.
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