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23/01/2004
Lixo vai gerar energia para 200 mil pessoas

O gás produzido pela decomposição das cerca de 7.000 toneladas de lixo despejadas diariamente no aterro Bandeirantes (zona norte) vai deixar de ser simplesmente jogado na atmosfera para se transformar em energia suficiente para abastecer aproximadamente 200 mil pessoas, ou 50 mil famílias, o equivalente à cidade de Marília, no interior paulista.

De quebra, o aproveitamento deverá ser responsável, por hora, pela não-emissão de cerca de 10 milhões de litros de metano (CH4), principal integrante da mistura gasosa gerada pelos resíduos e um dos maiores vilões para o clima do planeta.

O CH4 contribui para o aumento do efeito estufa -o aprisionamento natural da radiação solar na atmosfera-, que pode provocar o aquecimento excessivo do planeta, mudanças climáticas e, a longo prazo, causar tragédias como a inundação de cidades litorâneas. A queima incompleta do gás, como a que ocorre quando ele entra em contato com o oxigênio do ar, produz ainda monóxido de carbono (CO), que é tóxico.

O triplo benefício (econômico, ao ambiente e à saúde) começa a ser produzido hoje, com a inauguração, no Bandeirantes, da primeira usina de geração de energia a partir do gás lixo no país -uma iniciativa que reuniu o Unibanco, a empresa Biogás e a Eletropaulo, sob a batuta da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.

Com potência elétrica de 22,6 MW (megawatts) e capacidade para produzir até 170 mil MWh (megawatts por hora) de energia, ela deverá funcionar pelos próximos 15 anos, aproveitando não só o que será depositado no aterro até 2006 -quando se prevê que será encerrado- mas também o "passivo", que deverá ser, então, de cerca de 30 milhões de toneladas de combustível em potencial.

Segundo Elmar Silveira Michels, diretor-superintendente da Biogás, a usina do Bandeirantes é a maior do mundo. Nos arredores de Londres, há um equipamento com potência de 18 MW; em Paris, um outro tem 14 MW; e, em Barcelona, funciona um com 12 MW de potência, afirma.

Um estudo feito pela Cetesb (agência ambiental paulista) em 2001 concluiu que, por não aproveitar a energia vinda do lixo, o país perde 325 MW de potência, 0,4% do total instalado de 73 mil MW. Na capital paulista, o metano produzido nos dois aterros em funcionamento e em dois dos que já tiveram suas atividades encerradas poderiam gerar uma potência de 32 MW, suficiente para suprir 22,5% da iluminação pública.

Um dos empecilhos de iniciativas do gênero, segundo os técnicos da Cetesb, é o seu custo.

Para o Unibanco, maior investidor da empreitada -que custou R$ 60 milhões-, o retorno será a economia pelo não-pagamento da energia que serve cerca de mil agências em São Paulo -o que é produzido pela usina e jogado na rede é abatido da conta final.

Para a Eletropaulo -que, do total, gastou R$ 2,5 milhões na construção de uma subestação para conduzir a energia que vem do lixo à rede de distribuição-, o benefício virá na regularização do abastecimento de cerca de 2.200 famílias que vivem em sete comunidades vizinhas ao aterro e têm ligações precárias e "gatos" (ligações clandestinas). As despesas para tanto serão cobertas pelo banco e pela Biogás.

A empresa, que vai operar a usina, aposta no ganho com a regulamentação do comércio internacional de créditos de carbono, previsto pelo Protocolo de Kyoto, acordo que determina a redução na emissão dos gases que aumentam o efeito estufa. Através do mecanismo, que ainda é colocado em prática de forma incipiente e pontual, empreendimentos que evitam a emissão desse tipo de substância ganham uma compensação financeira, paga pelos que querem continuar emitindo.

Processo
O gás gerado pelo lixo é captado do subsolo do aterro por meio de uma rede de cerca de 50 km de extensão. É bombeado em seguida para uma central onde é distribuído entre 24 motores (que funcionam como os motores dos carros movidos a gás), os quais, por sua vez, fazem funcionar 24 geradores. O excesso de gás é queimado.

Dos geradores a energia vai para a subestação da Eletropaulo, que a coloca na rede distribuidora.

Até março, embora possa produzir energia a todo vapor, a usina funcionará com cerca de 1/4 de sua capacidade porque ainda estão sendo feitos ajustes para que a rede possa receber a carga extra, explica Ricardo Lima, vice-presidente comercial da Eletropaulo.

O projeto começou a ser tocado pela prefeitura em 2001. Desde meados de dezembro passado, os equipamentos vêm sendo testados para garantir que funcionarão conforme o esperado.



MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo

 
 
 

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