Três jovens cinéfilos,
infringindo as regras de segurança do Louvre, em Paris,
apostam uma animada corrida pelos corredores do museu, na
tentativa de bater o recorde de velocidade conquistado pelos
personagens do filme "Bande à Part", de Jean-Luc
Godard. A pequena transgressão, exibida em uma cena
do filme "Os Sonhadores", de Bernardo Bertolucci,
expõe a formalidade dos principais espaços museológicos
do mundo, onde, geralmente, além de correr, também
não é permitido fumar, comer, beber ou tocar
nas obras.
São regras adotadas também pelos museus de
São Paulo, dos quais é possível separar
algumas agradáveis exceções: nos jardins
que cercam o MAM, o MAC, a Pinacoteca e a Fundação
Maria Luisa e Oscar Americano, quatro instituições
que disponibilizam acervos de esculturas ao ar livre, muita
coisa é permitida. Correr, comer, beber e fumar, por
exemplo, o que faz dessas três raras paisagens verdes
pinceladas com peças de importantes escultores brasileiros
boas opções de passeio, principalmente durante
o verão.
Uma das maiores coleções de obras contemporâneas
em ambiente externo da cidade, o Jardim de Esculturas do MAM
foi inaugurado em 1993 e ocupa uma área de 6.000 m2
do parque Ibirapuera, localizada entre os pavilhões
da Oca e da Bienal (Portão 3), com 28 esculturas.
Pouca gente anda por ali com o objetivo específico
de ver as peças. O lugar funciona mais como um corredor
onde, quase acidentalmente, os passantes se deparam com uma
estrutura geométrica em forma de aranha assinada por
Emanoel Araújo, uma árvore de ferro e alumínio
de Cleber Machado, ou um relógio de sol esculpido em
ferro pelo português Charles de Almeida.
No Jardim da Luz, onde estão espalhadas esculturas
do acervo da Pinacoteca do Estado, a mesma informalidade do
ambiente externo é bem-vinda para muitos dos visitantes.
"Eu não tenho muita paciência para ficar
dentro de um museu. Num parque é diferente. Dá
para ficar horas", diz a enfermeira Lílian Figueiredo,
25, que saiu para dar uma volta e acabou dedicando parte de
seu sábado para contemplar as esculturas.
"A iluminação natural, o fundo azul do
céu e mesmo a brisa criam um ambiente agradável
para ver as peças. A única desvantagem em relação
ao espaço tradicional de exposição é
a dificuldade de conservação das peças,
que também ficam mais sujeitas a atos de vandalismos",
analisa a geóloga Márcia Faria, 39, que contemplava
as esculturas do Jardim da Luz.
A observação de Márcia é pertinente.
As peças assinadas por Brecheret, Mario Martins, José
Bento, Arcângelo Ianelli, Nuno Ramos e Lygia Reinach,
entre outros artistas, estavam em bom estado de conservação,
mas algumas identificações já estavam
deterioradas, à exemplo das placas metálicas
que identificavam as obras de Nuno Ramos e de Amilcar de Castro.
No Parque da Luz, havia seguranças orientados para
censurar atos de vandalismo. Mas, no Jardim das Esculturas
do MAM, a falta de vigilância permite irregularidades:
no sábado, dia 25, adolescentes subiram e pularam sobre
as placas de aço que compõem o trabalho "Sete
Ondas", de Amélia Toledo.
Com dimensões menores, o Jardim de Esculturas do MAC
da USP é outra boa opção ao ar livre.
A coleção reúne dez obras assinadas por
Amilcar de Castro, Tomie Ohtake, Emanoel Araújo, José
Resende, entre outros artistas.
Uma das peças do espaço brinca com o fato de
estar exposta em um ambiente externo. Trata-se de um balanço,
desses para crianças, de autoria de Siron Franco, cujas
cadeiras são bustos de bronze dispostos de cabeça
para baixo. A obra foi interditada com cordas de segurança
para não ser usada como brinquedo.
Na Fundação Maria Luísa e Oscar Americano
as esculturas ocupam um espaço amplo, mas com uma variedade
menor de obras. Com exceção de uma escultura,
todos os outros trabalhos, espalhados pelos 75 mil m2 do jardim,
são de autoria do construtivista húngaro Karoly
Pichler.
GUSTAVO FIORATTI
do jornal Folha de S. Paulo
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