|
Entre os dias 21 e 24 de julho,
o Senac São Paulo e a empresa de tecidos Fernando Maluhy
& Cia Ltda. realizaram a 2ª Semana Sociocultural
do Patchwork. Cerca de 5 mil pessoas passaram pelo evento,
que aproximou, em uma feira de artesanato, diversas empresas
e organizações do Terceiro Setor. Promoveu também
oficinas e palestras sobre a técnica de patchwork,
além de ações sociais.
Logo que entravam no evento, os visitantes
eram saudados por uma inusitada exposição. Em
homenagem aos 450 anos de São Paulo, 18 organizações
sociais retrataram, por meio de painéis feitos com
a técnica do patchwork (que aproveita retalhos de tecidos),
monumentos que caracterizam a cidade. Mas não da forma
convencional, como se costuma ver nos cartões postais.
Os painéis foram elaborados a partir do ponto de vista
das participantes.
Angélica Schmit, docente de
patchwork do Senac, conta que, além de capacitar as
representantes dessas organizações, o objetivo
do projeto era despertar o interesse pela história
da cidade e pela arte, para que depois elas repassassem esses
conhecimentos para outras pessoas de sua comunidade.
Antes de elaborar cada uma das obras,
as participantes desenvolveram uma pesquisa sobre os monumentos
de São Paulo. Depois, escolheram os locais mais interessantes.
Visitaram e fotografaram espaços como a Pinacoteca
do Estado, a Estação da Luz, o bairro da Liberdade,
Masp, entre outros locais. Em seguida, baseado nas fotos produzidas
pelas participantes, um fotógrafo profissional fez
novas imagens, captando todos os detalhes, para que pudessem
ser reproduzidos nos painéis.
Cristina Cardoso dos Santos, presidente
da Associação Beneficente de Cultura Pena Branca,
em Itaquera, na zona leste de São Paulo, conta que
participou do projeto retratando a Estação da
Luz. Embora já tivesse trabalhado com patchwork, ela
afirma que, durante o desenvolvimento do painel, aprendeu
novas técnicas. "No começo, pensei que
não fosse conseguir dar profundidade à imagem,
mas depois consegui, utilizando diversas técnicas.
Foi maravilhoso".
Ela diz que, desde janeiro, sua organização
está participando do Empório Social, projeto
social do Senac, que tem por objetivo fomentar a criação
de empreendimentos solidários e, assim, promover o
desenvolvimento local sustentável, a partir da assessoria
no desenvolvimento de produtos nas áreas de patchwork,
moda, arte em papel e alimentação. No caso da
Pena Branca, as mulheres estão se organizando para
criar uma cooperativa de patchwork.
Cristina diz que a técnica
é excelente para recuperar a auto-estima das mulheres
de sua comunidade. Isso porque elas conseguem ver, na prática,
"como do refugo das fábricas de tecido, de pedaços
de tela que pareciam inúteis, é possível
criar peças muito bonitas".
Segundo Cristina, no início,
convencer as mulheres a participar do projeto foi difícil,
porque elas teriam que trabalhar de graça, até
que conseguissem montar a cooperativa e passassem a gerar
renda. Hoje, oito mulheres estão bastante engajadas
no processo. Os primeiros resultados financeiros começaram
a aparecer. Em um evento no Memorial da América Latina,
elas arrecadaram cerca de R$ 1.000 com a venda de bolsas feitas
com diversas técnicas. O grupo optou por produzir bolsas
porque acredita que o produto tem uma boa aceitação
no mercado.
Empório Social
O Empório Social está capacitando 20
organizações comunitárias da cidade de
São Paulo. Durante o evento, essas organizações
conseguiram vender R$ 15.000 reais em produtos. Toda a parte
de alimentação foi elaborada por oganizações
que participam do projeto. O Centro Social Marista Jardim
Rubro, que trabalha com crianças de zero a 6 anos na
zona leste de São Paulo, é uma das organizações
que produz quitutes a partir do aproveitamento integral dos
alimentos.
Rosângela da Silva, assistente
social da organização, diz que o projeto está
ajudando a fomentar o desenvolvimento local sustentável
na comunidade e promovendo a inclusão social. Por enquanto,
apenas as educadoras da ONG estão sendo capacitadas.
Mas, em breve, 30 mães de crianças atendidas
vão participar do projeto – que recebeu o nome
de Oportunidade Solidária –, com o objetivo de
ampliar a renda doméstica.
A assistente social conta que a organização
optou por se capacitar na área de alimentação
porque era a que mais se enquadrava com o perfil da comunidade
que atende. As mães vão aprender além
das técnicas de produção dos alimentos,
conceitos de direito, empreendedorismo, cidadania. Ela explica
que, "quando a família consegue se manter, os
direitos da criança são mais facilmente assegurados
e por isso o projeto contribui para a causa da organização".
Já o Centro Educacional da
Criança e do Adolescente Ademir de Almeida Lemos preferiu
trabalhar com a customização de camisetas usando
os bordados. A organização também fica
na zona leste de São Paulo e atende crianças
e adolescentes. Mas participaram do projeto apenas meninas
de 15 a 18 anos.
Fabiana de Oliveira Régis,
multiplicadora do projeto, conta que, no início, as
participantes conheceram diversos artistas. Depois, promoveram
uma votação, para ver com qual artista se identificavam
mais. Acabaram escolhendo Van Gogh. Ela diz que ficou surpresa
como cada uma das adolescentes, a partir da mesma referência,
produzia coisas diferentes. E também com o senso de
responsabilidade que as meninas passaram a ter, preocupando-se
com si mesmas e com o trabalho que desenvolviam.
Renata Cruz foi uma das adolescentes
capacitadas. Ela diz que antes de passar pelo projeto, não
tinha interesse por costura, bordado ou tricô. "Achava
tudo uma perda de tempo". No início, confessa
que até fugia das aulas. Aos poucos, foi se encantando
com o trabalho. Hoje, sabe sobre a vida de Van Gogh de cor
e salteado. Ela diz que, se não conseguir vender muitas
peças, gerar muita renda, para ela não tem problema.
"O importante é crescer para si mesmo", afirma.
Como Van Gogh, que se preocupava em retratar tudo o que tinha
vontade.
Quilt Solidário
Durante o evento, os visitantes também puderam
participar de uma ação voluntária, que
produziu 304 edredons infantis com a técnica do quilt.
Em menos de vinte minutos, os participantes costuravam os
edredons, que foram doados para as organizações
Obra Assistencial Nossa Senhora do Ó e Núcleo
Coração Materno, ambas na zona norte de São
Paulo.
Daniella Ambrogi, coordenadora de
projetos do Senac, conta que a idéia do Quilt Solidário,
foi trazida pela Singer, parceira no evento, que tinha visto
iniciativa semelhante em um festival de patchwork, realizado
nos Estados Unidos.
Tanto o tecido, como a manta e as
máquinas de costura utilizados na produção
das peças foram cedidos por parceiros do evento. A
monitora, Elza Okado, explica que o material já estava
cortado e preparado para que os voluntários só
tivessem que fechar o edredon. Ela disse que o público
recebeu bem a ação e que alguns voluntários
passaram a tarde inteira produzindo edredons. "O público
gostou bastante porque aproveitava para aprender uma técnica
nova e, ao mesmo tempo, ajudar uma entidade social".
Edith de Souza Silva, 54, voluntária,
confirmou. Ela disse que, apesar de nunca ter trabalhado com
o quilt, conseguiu montar o edredon em menos de meia hora.
"Foi uma boa oportunidade de ajudar uma organização
social", afirma. Edith ajuda uma Igreja no seu bairro
e diz que vai tentar levar a idéia dos edredons infantis
para lá. Na Igreja, atualmente, ela contribui, produzindo
outros tipos de artesanato, como pintura em pano de prato,
em sabonetes e crochê.
LAURA GIANECCHINI
do site setor3
|