Vanessa Sayuri Nakasato
Os imóveis vazios a espera
de um dono ou inquilino podem vir a ter nova serventia. Um
grupo de moradores da Vila Olímpia, zona sul de São
Paulo, pretende transformar casas e prédios desocupados
em espaços culturais temporários. A idéia,
intitulada como Imobili Arte, é dar utilidade a lugares
que não estão sendo usados, mas geram despesas
às imobiliárias e seus proprietários.
A idealizadora do projeto, a psicóloga
Maria Augusta Pereira, acha um desperdício haver dezenas
de imóveis “bonitos, espaçosos e bem iluminados”
fechados acumulando pó. Principalmente porque, segundo
ela, existem milhares de artistas com currículos e
trabalhos maravilhosos que não aparecem por não
ter onde expor.
“Já vi artistas plásticos
serem premiados no exterior, mas, no Brasil, terem que trabalhar
quatro domingos em feirinhas de artes para conseguir vender
uma única aquarela e a preço de banana”,
indigna-se.
O artista plástico Jorge Henrique
Brasílio dos Santos expõe suas aquarelas todos
os sábados na Praça dos Omaguás, no bairro
de Pinheiros, zona oeste da cidade. Ele conta que, embora
seu trabalho seja exposto em uma feira de artes plásticas
“privilegiada”, o expositor de praça é
sempre mal visto até pelos colegas de profissão.
“Se pudéssemos escolher, com certeza estaríamos
em outro lugar. No entanto, é muito difícil
furar o mercado tradicional e colocar nossos trabalhos em
galerias de arte.”
A proposta do Imobili Arte é
mudar esse quadro. Com o slogan “Imóvel promove
arte e Arte promove imóvel”, o projeto almeja
transformar a união de espaço e criatividade
em chamarizes de pedestres.
“Geralmente, as pessoas que
caminham costumam olhar casas e jardins por onde passam. E
não é raro algumas delas entrarem no imóvel
quando há algo diferente, até porque é
divertido descobrir coisas novas pela cidade enquanto se passeia.
Esse é o nosso intuito. Fazer com que a arte convide
o paulistano para entrar na casa e vice-versa.”
Conforme o projeto, serão formados
grupos de cinco a dez profissionais, entre artistas plásticos,
escultores, fotógrafos, joalheiros e pintores. Cada
equipe ocupará um imóvel por tempo determinado
pela imobiliária, com prazo mínimo de 20 dias
e máximo de três meses. Os grupos serão
rotativos e terão regras a cumprir, como manter o ambiente
limpo, pagar água, luz e doar 10% de sua venda a entidades
carentes como pagamento pelo local.
Segundo Maria Augusta, o Imobili Arte
é um bom negócio para artistas e empresas imobiliárias.
A vantagem para os artistas é a oportunidade de expor
seus trabalhos em diversos bairros, aparecer e conquistar
novos clientes. Para as imobiliárias é atrelar
seus nomes à filantropia e ao incentivo à arte,
propaganda com grandes chances de ser bem-sucedida.
No momento, há três grupos
formados a espera do aval de alguma das empresas contatadas.
Entretanto, pretende-se formar mais de cem equipes com profissionais
de todos os pontos da capital paulista. Não há
nenhum local concreto para que o projeto seja iniciado ainda.
Mas a previsão é que Vila Olímpia seja
o primeiro bairro a receber o Imobili Arte.
Jorge Henrique já faz parte
de um dos grupos. Ele acredita conseguir projetar suas aquarelas
e, quem sabe, chegar mais perto de um de seus sonhos: viver
de artes plásticas.
“Se tudo acontecer da maneira
que planejamos, em alguns meses, São Paulo se tornará
a cidade das vernissages”, torce Maria Augusta.
|