O hábito, principalmente entre jovens, de ouvir música
em tocadores de MP3 e celulares com o uso de fones de ouvido
por longos períodos e volume alto já causa reflexos
em consultórios e clínicas médicas: casos
freqüentes de pacientes com problemas de audição.
Apesar de pequenos, alguns desses aparelhos são capazes
de produzir um volume máximo equivalente ao de uma
britadeira, algo em torno de 120 decibéis (dB).
Apesar de pequenos, alguns aparelhos de MP3 são capazes
de produzir um volume máximo equivalente ao de uma
britadeira
Nos últimos cinco anos, houve um aumento de 20% no
número de jovens com menos de 20 anos atendidos pelo
Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido, da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP). "No início,
nenhum jovem procurava o ambulatório", afirma
Tanit Sanchez, livre-docente da USP e responsável pelo
serviço. Atualmente, 311 pessoas estão cadastradas.
Dessas, 18 são adolescentes.
Um dos primeiros sinais de problemas de audição
é o aparecimento do "zumbido", um ruído
contínuo que parece um chiado. Imagine, por exemplo,
uma emissora de televisão fora do ar. O problema pode
ser agravado pelos barulhos do dia-a-dia, como trânsito
intenso, construção civil e até mesmo
músicas com volume alto em festas.
A pesquisadora ressalva que não é possível
dizer quanto desse aumento pode ser atribuído aos tocadores
de MP3 e dispositivos similares. Mas afirma que lugares barulhentos,
como shows e festas, podem contribuir. Segundo Tanit, a exposição
contínua a sons intensos é responsável
pelo zumbido em cerca de 35% das pessoas que procuram o ambulatório.
Testes feitos em walkman e tocadores de MP3 mostraram que
todos são capazes de reproduzir música acima
dos 100 decibéis, segundo estudo da Associação
Americana de Fala, Linguagem e Audição (Asha,
na sigla em inglês), realizado em 2006.
Sensibilidade
Iêda Russo, fonoaudióloga e professora
da PUC-SP e da Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo, afirma que a exposição
prolongada a um som com intensidade superior a 90 decibéis
pode prejudicar a audição. Trabalhando há
35 anos na área, ela diz que houve uma mudança
significativa na saúde auditiva dos jovens na última
década.
De acordo com a fonoaudióloga, a exposição
dos adolescentes a sons e ruídos cada vez mais intensos
e por períodos prolongados levou a uma redução
da sensibilidade auditiva. Atualmente, na média, os
jovens começam a detectar nos testes sons acima de
10 ou 20 decibéis. Embora 20 decibéis seja um
valor aceitável, a fonoaudióloga considera significativa
a redução da acuidade auditiva.
Iêda deixa claro que não é contra a utilização
desses aparelhos, mas afirma que é preciso ensinar
os jovens a tomar cuidado. A fonoaudióloga lembra que
a audição não serve só para comunicação:
também é importante para apreender o que acontece
fora do campo de visão. Ela sugere que adolescentes
ouçam música na metade do volume dos aparelhos
- de modo que os amigos ao redor não possam escutar
o som.
Alexandre Gonçalves
Portal UOL
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