Marina
Rosenfeld
especial para o GD
Condenado a 92 anos de prisão por homicídio
culposo, Ricardo Teixeira da Silva, 41, pode ser considerado
uma exceção em meio a tantas histórias
trágicas do sistema carcerário brasileiro. Após
23 anos cumprindo pena, Silva foi libertado por ter boa conduta
e participar de programas de reinserção social
na Penitenciária Nilton Silva, em Franco da Rocha,
em SP. Mas o que realmente torna a história de Silva
um caso de sucesso, é o fato de ter encontrado trabalho
logo após deixar as celas.
Silva, que trabalha na Rentalcenter – empresa que aluga
materiais para construção civil -, há
quase três anos, conseguiu essa oportunidade graças
à iniciativa que essa mesma companhia desenvolve dentro
do próprio presídio. A empresa montou no local,
oficinas para que os presidiários consertassem equipamentos,
que após o aluguel voltavam danificados.
A justificativa para essa iniciatica é que 60% dos
presidiários do Estado de São Paulo voltam ao
crime, pelo fato de não conseguirem recolocação
no mercado após deixarem a prisão, de acordo
com dados da Funap (Fundação Prof. Dr. Manuel
Pedro Pimentel).
“Se a pessoa fica muito tempo fora do mercado, além
da falta de capacitação profissional, ela perde
noção das relações. A idéia
é que essas oficinas sirvam de ferramenta para voltar
ao mercado. Caso não consiga um emprego formal, ela
pode trabalhar com esse conhecimento informalmente”,
afirma Maria de Fátima e Silva, gerente de responsabilidade
social da empresa.
Assim, consertar betoneiras, compactadores e furadeiras foi
o meio encontrado por Silva e por muitos outros presidiários
para ocupar o tempo, reduzir a pena (um dia a menos para cada
três dias trabalhados) e ainda aprender uma profissão.
Desde 2002, mais de 130 presidiários já passaram
pelas oficinas, que são aplicadas por um técnico
especializado, contratado pela Rentalcenter. Ao final de cada
módulo de aprendizagem, cada participante recebe um
certificado de especialização que posteriomente
pode ajudá-lo a conseguir um emprego.
Além das aulas de mecânica, elétrica,
pintura e solda, os detentos recebem um salário mínimo,
equipamentos de segurança e material pedagógico.
A oportunidade que Silva conseguiu na Rentalcenter, surpreendeu
ao próprio ex-presidiário que tinha em mente
sair do país logo que deixasse a penitenciária.
“A maior parte das pessoas não consegue se restabelecer.
Meu plano era tentar um emprego em outro lugar”, diz
ele.
A gerente de responsabilidade social da empresa em que o
ex-detento trabalha finaliza dizendo que o profissional foi
contratado pelo seu perfil e pela sua competência e
que o fato já ter passado pela prisão, nada
influênciou na sua seleção. “É
uma pena que esse tipo de contratação não
seja uma tendência. Ainda existe muita falha de comunicação
em relação à presidiários. A sociedade
os enxerga de uma maneira muito negativa”. |