Um
artigo de pesquisadores europeus defende a tese de que pessoas
com QI (Quociente de Inteligência) mais alto são
menos propensas a ter crenças religiosas. O estudo
será publicado na revista acadêmica "Intelligence"
em setembro.
O texto é assinado por Richard Lynn, professor de
psicologia da Universidade do Ulster, na Irlanda do Norte,
em parceria com Helmuth Nyborg, da Universidade de Aarhus,
na Dinamarca, e John Harvey, sem afiliação universitária.
Lynn é autor de outras pesquisas polêmicas, entre
elas uma sugerindo que os homens são mais inteligentes
do que as mulheres.
A conclusão da nova pesquisa é baseada na compilação
de pesquisas anteriores que mostram uma relação
entre QIs altos e baixa religiosidade e em dois estudos novos.
Em um desses, os autores compararam a média de QI com
a religiosidade entre países. No outro estudo, eles
cruzaram os resultados de jovens americanos em um teste alternativo
de habilidade intelectual (fator G) com o grau de religiosidade
deles.
Na pesquisa entre países, os estudiosos analisaram
a média de QI com a de religiosidade em 137 países.
Os dados foram coletados em levantamentos anteriores.
Os autores concluíram que em apenas 23 dos 137 países
a porcentagem da população que não acredita
em Deus passa dos 20% e que esses países são,
na maioria, os que apresentam índices de QI mais altos.
Exceções
Os pesquisadores dividiram os países em dois
grupos. No primeiro grupo, foram colocados os países
cujas médias de QI são mais baixos, variando
de 64 a 86 pontos. Nesse grupo, uma média de apenas
1,95% da população não acredita em Deus.
No segundo grupo, em que a média de QI era de 87 a
108, uma média de 16,99% da população
não acredita em Deus.
Os autores argumentam que há algumas exceções
para a conclusão de que QI alto equivale a altas taxas
de ateísmo. Eles citam, por exemplo, os casos de Cuba
(QI de 85 e cerca de 40% de descrentes) e Vietnã (QI
de 94 e taxa de ateísmo de 81%), onde há uma
porcentagem de pessoas que não acreditam em Deus maior
do que a de países com QI médio semelhante.
Uma possível explicação estaria, segundo
os autores, no fato de que "esses países são
comunistas e houve uma forte propaganda ateísta contra
a crença religiosa".
Outra exceção seriam os Estados Unidos, onde
a média de QI é considerada alta (98), mas apenas
10,5% dizem não acreditar em Deus, uma taxa bem mais
baixa do que a registrada no noroeste e na região central
da Europa --onde há altos índices médios
de QI e de ateísmo.
Lynn diz que uma explicação para o quadro verificado
nos Estados Unidos pode estar no fato de que "há
um grande influxo de imigrantes de países católicos,
como México, o que ajuda a manter índices altos
de religiosidade".
Mas ele reconhece que mesmo grupos que emigraram para os
Estados Unidos há muito tempo tendem a ter crenças
religiosas fortes e diz que, simplesmente, não consegue
explicar a realidade americana.
Generalização
Os autores argumentam que essa relação
entre QI e descrença religiosa vem sendo demonstrada
em várias pesquisas na Europa e nos Estados Unidos
desde a primeira metade do século passado.
Eles citam, também, uma pesquisa de 1998 que mostrou
que apenas 7% dos integrantes da Academia Nacional Americana
de Ciências acreditavam em Deus, comparados com 90%
da população em geral.
Lynn admitiu à BBC Brasil que os resultados apontam
para uma "generalização" e que há
pessoas com QI alto que têm crenças religiosas
fortes. Segundo ele, há vários fatores, como
influência familiar ou pressão social, que influenciam
a religiosidade das pessoas.
"Nós temos de diferenciar a situação
de hoje com outros períodos da história. As
pessoas tendem a adotar uma atitude de acordo com a sociedade
em que vivem. Hoje em dia, no Reino Unido e em outros países
europeus, não há tanta pressão da sociedade
para que você acredite em Deus", afirma.
Uma das hipóteses que o estudo levanta para tentar
explicar a correlação entre QI e religiosidade
é a teoria de que pessoas mais inteligentes são
mais propensas a questionar dogmas religiosos "não-racionais".
Dúvidas
O professor de psicologia da London School of Economics, Andy
Wells, porém, levanta questões sobre a tese.
"A conclusão do professor Lynn é de que
um QI alto leva à falta de religiosidade, mas eu acredito
que é muito difícil ter certeza disso",
afirma. De acordo com Wells, vários estudos já
demonstraram que pessoas com níveis de QI altos tendem
a ter níveis de educação mais altos.
"E, quanto mais educação as pessoas têm,
é mais provável que elas tenham acesso a teorias
alternativas de criação do mundo, por exemplo",
afirma Wells.
da BBC
Folha Online
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