|
da
Redação
O Sindicato dos Médicos de São Paulo levantou
dados mostrando as condições em que os profissionais
de saúde trabalham, focando nas condições
de saúde psicológica e na de integridade física.
Veja a pesquisa:
Em meio a essa "guerra" criada no dia-a-dia
dos profissionais de sáude que enfrentam condições
insatisfatórias de trabalho, que muitos fingem não
enxergar, a saúde dos médicos torna-se uma bandeira
a ser erguida pelas entidades médicas e governos. Não
são raros exemplos de depressão, estresse e
uso de drogas na categoria , inclusive em residentes, tanto
que foi criada uma Rede de Apoio aos médicos dependentes
químicos da unidade de pesquisa em álcool e
drogas do departamento de Psiquiatria da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp). Conforme a pesquisa, a violência
deixou seqüelas em 39,03% das vítimas, sendo 25,85%
de natureza mental/psicológica, 2,93% de natureza física
e 10,25% com seqüelas de ambas as naturezas.
Um estudo realizado pela Fundação Seade e pelo
Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
chama a atenção para os casos de suicídio
na categoria: 11% dos óbitos de médicos na faixa
etária entre 20 e 39 anos foram causados por suicídio.
Luiz Antonio Nogueira Martins, professor adjunto da disciplina
de psicologia médica e psiquiatria social do departamento
de Psiquiatria da Unifesp e conselheiro do CRM explica que
o suicídio é universalmente conhecido como uma
das principais causas de morte em médicos, mas ele
chama a atenção para a faixa etária relativamente
jovem, ao contrário de estudos realizados em outros
países, que mostram uma incidência maior na faixa
entre 45 e 60 anos. "Certas condições do
trabalho médico fazem com que o exercício profissional,
principalmente em alguns serviços de emergência
da rede pública de assistência médica,
seja considerado uma atividade extremamente insalubre, penosa
e perigosa para a saúde física e mental",
alerta.
Segundo Nogueira esses riscos estão ligados a relações
de trabalho (proletarização, perda da autonomia
e competição selvagem); riscos biológicos
(exposição a fluidos orgânicos como sangue
e secreções), físicos (radiações),
químicos (gases anestésicos), ergonômicos
(condições de trabalho em especial nos plantões
como iluminação, conforto térmico e acústico,
alimentação). "A questão da insalubridade
ocupacional não pode e não deve ser resolvida
somente com compensações trabalhistas como adicionais
de penosidade, periculosidade ou de insalubridade na medida
em que, embora justos e merecidos, podem eventualmente mascarar
o problema ou mesmo protelar medidas necessárias para
tornar o ofício menos insalubre e arriscado",
avalia.
A fim de proteger o profissional de ataques violentos, a
Resolução 090/2000, do Cremesp, no item D.2.2,
estabelece: "em locais de trabalho sabidamente violentos
e que exponham a risco a integridade física dos médicos
no atendimento de pronto-socorro, deverá haver a manutenção
de plantão policial ou, na impossibilidade deste, segurança
privada".
Essa é a reivindicação da psiquiatra
do Centro de referência para álcool, tabaco e
outras drogas, da Secretaria de Saúde do Estado, Beatriz
Helena de Albuquerque Furtado Rodrigues, que entrou em contato
com o Sindicato pedindo interferência para negociar
segurança no local. A médica denuncia que a
unidade de saúde atende em média 40 novos casos
por semana e o estabelecimento não é seguro.
Recentemente a psiquiatra foi agredida durante um procedimento.
Um paciente que aguardava atendimento invadiu a sala e pegou
uma cadeira para arremessar contra a profissional. Graças
a ação dos funcionários, ele foi impedido.
"Agressão verbal e ameaças são comuns
no dia-a-dia dos profissionais do Centro, também ocorrem
furtos. Fornecer segurança é oferecer boas condições
de trabalho, garantindo a tranqüilidade a funcionários
e usuários", ressalta.
A diretora técnica do Centro de Referência em
questão, Luizemir Wolney Carvalho Lago, respondeu a
denúncia afirmando que a relação médico-paciente
é que deve ser melhor trabalhada. "Não
é o guarda quem vai me dar segurança, é
preciso tratar o paciente com atenção",
reflete. A diretora afirmou que recentemente solicitou segurança
para o local durante reunião com o Secretário
de Saúde, José da Silva Guedes. Segundo Luizemir
o Centro está buscando formas de resgatar a humanização
no atendimento, realizando reuniões semanais com equipe
multidisciplinar.
Violência
contra os médicos
Os doze anos de medicina exercidos no Brasil pelo chileno
Guillermo Gomez Garcia reúnem uma série de episódios
que envergonham e entristecem a profissão - um dia
tão respeitada. O médico já foi atingido
por um soco no rosto e agredido na cabeça com uma garrafa
de vinho. Histórias como estas, num passado não
muito distante, eram raríssimas. Hoje, estão
se incorporando ao cotidiano médico. Hospitais, prontos-socorros
e postos de saúde ameaçam a integridade de profissionais
e usuários. É o que aponta a pesquisa (In) Segurança
dos Médicos: violência e suas conseqüências
em estabelecimentos de Saúde de São Paulo, atualizada
pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp)
em outubro de 2002. De acordo com o estudo 41% dos médicos
já sofreram algum tipo de violência no ambiente
de trabalho, seja física ou verbal. Dos relatos, 48,36%
estão relacionados a ameaças, seguido por assalto
(26,18%) e agressão física (14,91%).
A pesquisa teve sua primeira versão publicada em janeiro
de 2000. Mas, diante das constantes reclamações
dos profissionais e do crescente índice de violência
que aterroriza toda a sociedade, o Simesp decidiu atualizar
o estudo. Os dados são dramáticos, o mais assustador
é a ocorrência de seqüestros-relâmpagos
cujo crescimento foi de 358,94% em relação ao
estudo anterior. O percentual deste tipo de ocorrência
saltou de 5,26% para 24,14% das violências de menor
incidência (10,55%).
O crescimento de 41,52% do número de médicos
que sofreram cinco ou mais atos violentos também chama
atenção. O índice representa uma freqüência
de 3,82 casos para cada profissional. Os hospitais públicos
lideram o ranking das agressões (77,1%). A maior incidência
acontece nas unidades de prontos-socorros (61,19%), seguida
por ambulatórios (21,64%) e consultórios (17,17%).
As zonas Sul e Leste apresentam as maiorias queixas, 32,38%
e 29,51%, respectivamente.
Evasão
Assustados pela insegurança, muitos profissionais (23,9%)
se afastam (ou gostariam) de determinados locais de trabalho.
É o caso da médica Kenya de Sales Flamino, sofreu
agressão duas vezes no ambiente de trabalho. Na primeira,
levou socos da mãe de uma paciente. O motivo? A Unidade
Básica de Saúde não oferecia serviço
de tomografia. A agressora só parou com a intervenção
dos seguranças. O segundo caso foi na época
do PAS, próximo ao local de trabalho, quando dois motoqueiros
a abordaram para assaltá-la. Por sorte um policial
percebeu a ação dos meliantes, evitando o assalto.
A médica chegou escoltada no hospital. Kenya não
agüentou a pressão e pediu demissão. "Sinto
medo. Evito, ao máximo, trabalhos distantes. Hoje um
dos requisitos para eu trabalhar é a localização.
Procuro estar o mais próximo possível de casa",
comenta.
Ao ser questionada sobre as razões que levam um paciente
se voltar contra o profissional, Kenya é enfática:
"a população fica revoltada por não
conseguir atendimento e desconta nos funcionários do
estabelecimento". A pesquisa do Simesp apurou que 24,39%
dos médicos atribuem a violência principalmente
à desigualdade social, que acaba originando a criminalidade.
Outros 14,63% consideram as precárias condições
de atendimento ao público devido às péssimas
condições de trabalho o principal motivo. Mas,
a grande maioria (47,81%) atribui a violência a ambos
os motivos.
Na realidade, a falta de segurança resulta na dificuldade
de contratação em locais distantes e periféricos.
De acordo com José Erivalder Guimarães de Oliveira,
presidente do Simesp e um dos coordenadores do estudo da violência,
só nos hospitais municipais há um déficit
de 500 médicos. "Para solucionar essa problemática
é preciso ter equipamentos de saúde adequados
e mudar o modelo de atenção à Saúde
que se baseia nos hospitais. Essa transformação
passa pela adoção do Programa de Saúde
da Família, enquanto programa vinculado ao SUS, cujo
objetivo é absorver a grande demanda de atenção
primária, que chega a sobrecarregar os hospitais. O
Estado ainda não conseguiu dar uma resposta a altura
da população, por isso ela briga", argumenta.
| |
|