A
retomada do crescimento econômico trouxe de volta o
velho problema da escassez de profissionais qualificados no
mercado de trabalho. Os setores mais atingidos são
os que estão com demanda aquecida, como as indústrias
de petróleo, mineração, material de transporte,
tecnologia da informação, confecções
e varejo. Também falta mão-de-obra especializada
no agribusiness, principalmente no setor sucroalcooleiro.
Segundo recente pesquisa da Confederação Nacional
da Indústria (CNI), muitas das empresas desses setores,
que criaram centenas de novas vagas nos últimos meses,
não estão encontrando trabalhadores preparados
para ocupá-las.
Só a catarinense WEG, uma das maiores fábricas
de motores elétricos industriais do País, que
já contratou 3,5 mil profissionais este ano, permanece
com 500 vagas abertas. Nos setores de mineração
e de equipamentos de transportes pesados, tornaram-se freqüentes
as investidas da Caterpillar e da Volvo para atrair técnicos
da Vale do Rio Doce. Por sua vez, esta empresa criou uma universidade
corporativa para treinar a mão-de-obra de que necessita.
A estratégia da indústria automobilística,
que a partir de 2007 passou a trabalhar em três turnos,
foi contratar metalúrgicos aposentados.
Para reter trabalhadores especializados, segundo a CNI, as
grandes empresas aumentaram os salários e ampliaram
a concessão de benefícios. Outras criaram programas
de qualificação e treinamento com recursos próprios.
Mas, como os candidatos são egressos da rede pública
de ensino fundamental, eles chegam com formação
deficiente, sem conhecimento mínimo de português
e matemática para acompanhar as aulas. Nas escolas
do Sesi e do Senac, os formandos são disputados pelas
empresas.
O maior problema é a escassez de operários
altamente especializados. Mas muitas empresas também
têm dificuldades para contratar profissional de nível
superior, especialmente geólogos e engenheiros. Para
atender à demanda, a Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) pretende abrir, nos próximos dois anos,
700 novas vagas em seus cursos de engenharia. Outras universidades
públicas têm planos semelhantes. “Um engenheiro
no setor de construção civil é mosca
branca, de tão raro”, diz a gerente de atendimento
do Centro de Apoio ao Trabalho da Prefeitura de São
Paulo, Izilda Leal Borges.
Essa iniciativa, contudo, não eliminará o risco
de um “apagão de mão-de-obra”. Para
os quatro grandes projetos de usinas siderúrgicas que
deverão sair do papel nos próximos anos até
2010, a estimativa é de que será necessária
a contratação de 1,6 mil engenheiros. “A
demanda é bem maior que a capacidade de formação
das escolas”, diz o diretor da Escola Politécnica
da UFRJ, Erickson Almendra. E, se o País obtiver o
investment grade, afirma a CNI, a demanda de profissionais
qualificados aumentará ainda mais.
Para enfrentar o problema, o Ministério da Educação
lançou este ano um ambicioso plano de expansão
das escolas técnicas federais. A meta é triplicar
até 2010 as vagas oferecidas, passando das atuais 160
mil para 500 mil. E o novo presidente do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, Márcio Pochmann, também
anunciou estudos para aperfeiçoar programas de qualificação
e treinamento. “É preciso aproximar as empresas
dos centros de formação. Em países como
Alemanha e Japão, o governo faz pesquisas que antecipam
as demandas futuras de trabalhadores. Aqui, a qualificação
é feita pela oferta de cursos, e não pela demanda
das empresas”, afirma.
Iniciativas como essa merecem aplauso. Revelam que o governo
do presidente Lula finalmente despertou para as prioridades
em matéria de educação, após ter
perdido tempo e dinheiro, no primeiro mandato, com demagógicas
propostas de cotas raciais e de reforma universitária.
Com a política adotada - com grande atraso - no segundo
mandato, o Brasil poderá sair da situação
paradoxal em que se encontra, onde as empresas precisam de
trabalhadores, mas não há pessoas preparadas
entre os milhões que estão desempregadas.
Editorial
O Estado de S.Paulo.
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