BRASÍLIA
- A Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) pretende desenvolver
políticas específicas para combater o consumo
excessivo de álcool entre a população
e o uso de solventes por meninos de rua. Pesquisa feita para
a Senad pelo Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), revelou que as duas
substâncias estão entre as mais usadas por jovens
e adolescentes que vivem nas ruas das 27 capitais.
O estudo foi divulgado ontem no Fórum Nacional sobre
Drogas, que seria aberto à noite pelo presidente Lula.
Segundo o secretário Nacional Antidrogas, general Paulo
Roberto Uchoa, o encontro marca um "realinhamento"
da política governamental de combate às drogas,
que passará a ser feita de forma mais integrada entre
os diversos ministérios envolvidos com a questão,
como Educação, Saúde, Justiça
e Desenvolvimento Social, sob a coordenação
da Senad.
"Algo mais rigoroso tem de ser feito para controlar
o uso de solventes", disse Uchoa. Pela pesquisa do Cebrid,
a droga é a mais usada por 28,7% dos meninos de rua
no País, sendo superada apenas por álcool (43%)
e tabaco (44,5%). Apesar de existirem controles - só
profissionais autorizados a usá-la, como sapateiros,
pintores e marceneiros, podem comprá-la -, a droga
é de acesso relativamente fácil.
No caso do álcool, já foi criada uma câmara
técnica no Conselho Nacional AntiDrogas para elaborar
uma política de combate ao consumo excessivo. "Pesquisas
mostram que é uma das drogas que causam maior dependência
química e está por trás de grande número
de crimes, violência doméstica e acidentes de
trânsito", contou Uchoa.
Família
A pesquisa do Cebrid, feita com 2.807 jovens que
vivem nas ruas das capitais, mostra dados surpreendentes.
Segundo ela, apesar de passar o dia nas ruas, 68,7% costumam
dormir regularmente na casa dos pais. E nada menos do que
55,8% dos entrevistados ainda estudam.
As ligações familiares e com a escola, segundo
o trabalho, funcionam como um escudo contra o uso de drogas.
Dos jovens que ainda mantém laços com a família,
por exemplo, apenas 19% fazem uso freqüente de algum
tipo de droga. Entre os que efetivamente moram na rua, a proporção
sobe para 72,5%.
Uchoa explicou que os dados da pesquisa servirão para
orientar as ações do governo no combate às
drogas entre essa parcela da população. Segundo
o estudo, a simples repressão tem se mostrado pouco
eficaz na falta de políticas que procurem tratar a
família e oferecer assistência nos serviços
públicos de saúde.
Depoimentos mostram que muitas vezes o uso da droga tem para
esses jovens um caráter lúdico, substituindo
as brincadeiras e o lazer a que não têm acesso.
Entre crianças e adolescentes que dormem na casa dos
pais ou responsáveis, 50,1% disseram que gostam de
ficar pelas ruas por diversão, para ter mais liberdade
ou não dispor de outra atividade. Uma parcela expressiva
(43,9%) respondeu que está na rua para buscar o próprio
sustento ou o da família.
Só 2,6% deram como motivo a existência de pais
ou responsáveis embriagados ou drogados. Ambiente familiar
ruim é um dos principais fatores de risco para crianças
e adolescentes. Entre os que passaram a morar definitivamente
nas ruas, 45% disseram ter feito isso porque viviam em casa
relações familiares marcadas por agressões
e conflitos.
ODAIL FIGUEIREDO
do jornal O Estado de S. Paulo
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