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Em
São João Clímaco, bairro pobre da zona
sul de São Paulo, não há pai que não
queira uma vaga para o filho no CEU (centro educacional unificado)
da região. Novinho em folha, o CEU Meninos tem duas
quadras esportivas (uma é coberta), três piscinas,
dois campos de futebol, teatro, sala de computadores, laboratório
de ciências e biblioteca.
Fora do horário de aula, os
alunos têm atividades extras à vontade: futsal,
vôlei, natação, hidroginástica,
alongamento, dança de salão, jazz...
O que os pais não sabem é
que, apesar do jeito de clube misturado com centro cultural,
o CEU Meninos teve notas mais baixas na Prova Brasil de 2007
que um colégio municipal de azulejos verdes desbotados
localizado a poucas quadras dali, a discreta Escola Presidente
Campos Salles.
São mundos diferentes. Ao contrário
do que ocorre no CEU vizinho, a quadra esportiva da escola
é descoberta e mal tem as marcações no
chão, apagadas pelo tempo, e as traves do gol são
improvisadas com tijolos. A biblioteca é bem menor.
Não há vigias na porta _computadores foram furtados
poucos anos atrás. Os estudantes não têm
piscina nem teatro.
Numa escala de 0 a 10, o CEU Meninos
ganhou notas 4,09 (quarta série) e 3,97 (oitava série)
na avaliação oficial do ano passado. A Escola
Presidente Campos Salles alcançou, nas mesmas séries,
notas 4,68 e 4,20. A Prova Brasil se compõe de questões
de português e matemática.
A diretora das turmas de ensino fundamental
daquele CEU, Fátima Moraes Sousa, não vê
problema na disparidade das notas. Ela diz que os centros
educacionais unificados não têm necessariamente
de se sobressair.
"O CEU faz parte da rede municipal.
Tudo que se faz nas outras escolas também se faz aqui",
ela explica. "A diferença que é que temos
as atividades, as oficinas [extracurriculares], mas isso tudo
fica no outro prédio. Não tem a ver com minhas
atribuições como diretora."
Braz Rodrigues Nogueira, que dirige
a Escola Presidente Campos Salles, discorda. Para ele, a proposta
inovadora dos CEUs deveria ter servido de motivo para mudar
as bases da educação pública na cidade.
"Os CEUs, por serem novos, deveriam
ter autonomia para selecionar seus próprios professores,
para que permaneçam os mais qualificados, e não
receber qualquer professor que passa no concurso público.
E precisariam ser professores da comunidade, comprometidos
com a comunidade, que não faltam, que não pedem
transferência", diz ele. "Na realidade, a
escola comum foi transplantada para dentro de um CEU. Desse
jeito, a qualidade não muda mesmo."
No entanto, o diretor da Presidente
Campos Salles não vê como vantagem o fato de
sua escola ter se saído melhor que o CEU Meninos na
última Prova Brasil: "Não temos mérito
nenhum. Está péssimo lá e está
péssimo aqui".
Ricardo Westin
Folha de S.Paulo
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de CEU fica abaixo da média da rede municipal
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