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Erika Vieira
O espaço cinza e ocioso
debaixo do viaduto Júlio de Mesquita Filho, no bairro
do Bexiga, pode ganhar um caráter todo cultural, caso
saia do papel o projeto de criação do shopping
que abraçará um grande teatro na rua Jaceguai,
bem em frente ao viaduto.
A idéia é dos arquitetos
Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki e Francisco Fanucci, que, inspirados
em viadutos de outras cidades, como Paris,
Londres,
Berlim,
Nova
York e Buenos
Aires, criaram espaços destinados ao acervo Adoniran
Barbosa (o “sambista da garoa”) e uma biblioteca
pública, bem como um área para equipamentos
esportivos de lazer e convivência, bares e restaurantes.
Tudo isso para funcionar debaixo do viaduto que atualmente
é uma área
degradada, uma espécie de “cicatriz urbana”
decorrente da ponte de concreto.
A construção do shopping
junto com o novo teatro será feita no terreno –
propriedade do Grupo Silvio Santos, responsável pela
encomenda do projeto - ao lado do Teatro Oficina. José
Celso Martinez Corrêa, presidente da Associação
Teatro Oficina, também compartilha da idéia
de transformar o viaduto em pólo de cultura, porém
acredita que a região do Bexiga pode ganhar bem mais
que isso. Para ele, o potencial artístico do bairro
deve ser usado de forma educativa para que contemple a comunidade
do entorno, que em grande maioria são pessoas de baixa
renda. “Precisamos fortalecer esse povo economicamente,
mas para isso tem que ser primeiro educacionalmente.”
Desde 2002, o Oficina já é
usado para disseminar educação. O programa Bexigão
permite que crianças e adolescentes do bairro se apropriem
do espaço do teatro para participar de oficinas de
dramaturgia, teatro, circo, fotografia, capoeira, percussão,
canto, vídeo e ioga. Mas o grande ideal é criar
a Universidade Popular Livre Antropofágica para funcionar
dentro de um grande teatro-estádio. “Uma universidade
para a população local de pobres, negros, o
pessoal da Vai-Vai, todo o mundo que vive ali”, diz
José Celso.
O projeto do Grupo Silvio Santos também
engloba um teatro-estádio. Inicialmente a idéia
foi proposta pelo próprio José Celso, que hoje
diverge do projeto oficial por considerar que um verdadeiro
teatro-estágio tem de abrigar cerca de 5.000 pessoas
na platéia, não apenas 2.000.
Veja:
Projeto
do viaduto em movimento
O projeto oficial
O projeto completo abrange a construção
de um teatro cercado por uma redoma verde, cheia de plantas,
que será abraçado pelo shopping composto por
galerias abertas, no estilo da Galeria do Rock, na avenida
São João, e do Conjunto Nacional, na Avenida
Paulista. “Nada de muros e labirintos de luz artificial,
sufocantes espaços de negação da cidade”,
explica Ferraz, que opta por espaços que mantêm
uma relação viva e saudável com seu entorno.
A maior parte do terreno será
ocupada pelo teatro, 40x40 metros e 20 metros de altura, em
formato de bloco e coroado com uma flor de aço. Quando
a flor se abre, uma janela de 20 metros de diâmetro
aparece, fazendo com que a luz solar tome conta de todo o
interior. Terá capacidade para 2.000 pessoas.
Os arquitetos foram procurados pelo Grupo Silvo Santos, que
encomendou todo o projeto.“Foi uma grande oportunidade
para sair da mesmice dos projetos de shopping centers que
se alastram por nossas cidades. Mais ainda, vi ali uma oportunidade
de propor algo que pudesse reabilitar e requalificar todo
o espaço público de uma região tão
sofrida e maltratada, como o bairro do Bexiga”, declara
Ferraz.
Veja:
Projeto
do shopping e do teatro em movimento
O impasse
O Teatro Oficina entrou na justiça contra
a construção do projeto do Grupo Silvio Santos.
O desacordo está no núcleo que irá gerenciar
o teatro estádio. “Admitimos viver com o shopping,
desde que o teatro seja gerido por pessoas do teatro para
ser voltado para a multidão. Queremos fazer uma ponte
entre cultura, educação e ecologia”, fala
José Celso Martinez Corrêa.
Ele conta que fizeram uma pesquisa
com a comunidade local para saber se a preferência era
por shopping ou universidade. A opção vencedora
foi a educação. “Todo mundo quer apreender”,
diz. Enquanto seguir o processo, nenhuma das propostas será
concretizada e a área continuará degradada.
Áudio
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