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22/09/2006
Carta da semana
O ANEL DE FORMATURA
“Tirei o meu anel de doutor para não dar o que
falar”. Bons tempos estes em que um anel de formatura
era um grande símbolo de status e respeitabilidade.
Hoje, não só o anel saiu de moda como também
o orgulho de se ter um curso superior.
Nosso escritório recebe um volume considerável
de currículos de bacharéis, a maioria se propondo
a funções não ligadas diretamente ao
Direito, por não terem conseguido passar no Exame da
OAB. Da mesma maneira, os que já garantiram suas inscrições
na entidade aceitam trabalhar independentemente do salário
que venham a receber. Esses jovens — e alguns nem tão
jovens assim — perseguiram o sonho de um dia terem uma
carreira que já foi idealizada por várias gerações.
Temos uma profissão que era o desejo de todos os pais,
que orgulhosos afirmavam: “Meu filho vai ser engenheiro,
médico ou advogado. Quero o melhor para ele”.
A atual realidade, porém, mostra-nos como eles estavam
enganados.
O mercado de trabalho jurídico está saturado.
A concorrência está cada vez mais predatória.
De um lado, profissionais seniores vêm abandonando as
grandes bancas em busca de oportunidades nos pequenos e médios
escritórios. De outro, há uma leva de advogados
que saem para mudar de área, abrir seu próprio
negócio, e tornam-se vendedores, taxistas, etc. Não
se encontra mais espaço na profissão e, além
disso, o leilão de honorários já é
uma prática corrente. Nossas qualidades e respeitabilidade
são, freqüentemente, postas em cheque.
As faculdades de Direito jogam no mercado, todos os anos,
uma média de 60 mil recém-formados. Faculdades
que, em sua grande maioria, fingem que ensinam e os alunos
fingem que aprendem. Basta ver os resultados dos exames de
admissão na OAB dos últimos anos. Uma única
agência de seleção e recrutamento de profissionais
chega a entrevistar, semanalmente, 140 pessoas para a área
jurídica. O que fazer diante desta realidade?
A meu ver, a solução mais óbvia é
de se pensar, em primeiro lugar, na aptidão profissional,
em um teste vocacional. Em seguida, fazer uma análise
aprofundada da qualidade da instituição de ensino
que se pretende cursar, e não, optar pela mais fácil
de se entrar. Em terceiro lugar, verificar se a sua formação
básica lhe permitirá concorrer em igualdade
com os demais e, por fim, certificar-se de que terá
paciência o suficiente para enfrentar a morosidade da
nossa Justiça, a qual leva muitos clientes a pensarem
que somos incompetentes em razão do tempo despendido
para se resolver até a mais prosaica questão.
Há de se pensar e repensar o futuro dessa nova geração
que pretende ingressar na área. Atualmente, temos setores
da economia muito promissores e rentáveis. Vamos deixar
algumas profissões para os realmente capacitados, pois
o país está carente de bons técnicos.
Vamos valorizar profissões que ainda não têm
a sua devida importância reconhecida. Assim, quem sabe,
brevemente voltemos a ter — para a alegria dos joalheiros
— a necessidade da criação de vários
modelos de anéis, que identificarão essas novas
funções”,
Sylvia Romano -
sylviaromano@uol.com.br
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